Julgando livro (e autor) pela capa

>> terça-feira, 16 de julho de 2013



Uma vez em entrevista, Clarice Lispector afirmou que comprou um livro de Katherine Mansfield por conta da capa bonita. A consequência foi que o livro não era apenas uma capa bonita, mas era sim muito bom. E não é julgamento meu (apesar de que concordo), mas julgamento de Clarice. Acontece que a mesma Clarice odiava ser comparada a Katherine Mansfield. Ou Virginia Woolf. Ou pior, James Joyce, autor que ela negou até o fim ter lido alguma coisa, mais ou menos como Lima Barreto em relação a Machado de Assis.

Contudo, a coisa de não julgar o livro pela capa é muito relativa. Já o julgamento pelo autor, quase sempre não. Porque quase sempre? Porque existem casos como o de Jostein Gaarder de O Mundo de Sofia, que escreveu o chatinho Coringa. Tudo é uma questão de perspectiva.

Um fenômeno peculiar que observo nos dias de hoje é o culto ao livro bonito e vistoso para embelezar prateleira. Geralmente são livros gordinhos, volumosos, cheio de outras interessâncias, que não a literária, como fofurices no rodapé da página (ao invés de referências), cores, margem e fontes alternativas (ao invés de conteúdo). E aí nos deparamos com a legião de leitores de escritores escrotos, como Lauren Conrad, que até um dia desses eu não fazia ideia de quem se tratava, até dar de cara com aquele vídeo nefasto em que ela trucida as edições de Desventuras em Série, em teoria, para fazer "arte". Minha gente.

E não, ela jamais poderia ter feito aquilo, por uma questão de ética, porque afinal ela é escritora, mesmo que seja uma escritorazinha de meia pataca. E antes, uma leitora, porque afinal, se espera que leitores amem livros e amar não é destroçar algo, isso é psicopatia. Um livro para um verdadeiro leitor não é um objeto, mas sim um amigo, e a gente não arranca pedaços dos amigos, não joga tinta, não mancha, não esquece. Por isso, vocês que se dizem amantes da literatura e usam as páginas de livros antigos para decorar seja lá o que for ou ainda, desenhar e vender como ilustração por 100 George Washingtons no Etsy, você tem problemas, pessoinha.

Rabiscar um livro com anotações, sublinhar, isso é dialogar com a estória que ali é contada, é como conversar com seu amigo. Sem macular a obra, óbvio.

Na imagem alguns dos meus livros anciões, que um monte de gente jamais compraria, tampouco mostraria como "modelos" de livros interessantes. O livrinho que está encostadinho na pilha de livros (Machado de Assis, Eça de Queiroz, Proust, Humberto de Campos) é o livro mais antigo da minha mini biblioteca, é uma terceira edição de Um Homem Rico de Camilo Castelo Branco, de 1889. Comprei num sebo por R$ 1,00. Nem gosto muito de Camilo Castelo Branco, contudo, para mim, este livro é inestimável, porque sim, é um clássico da literatura portuguesa e, uma edição muito muito antiga, já com 124 anos.

Bisous.


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