Vão pra rua. E não esqueçam de melhorar.

>> terça-feira, 18 de junho de 2013


Sempre fui conhecida como aquela pessoa que sempre deixa clara a sua posição e opinião. Nunca deixei dúvidas em relação aos meus posicionamentos e isso sempre incomodou. Incomodou e incomoda, porque não é posição fácil não seguir a multidão, a maioria, entrar no uníssono ou seja, ser dissonante. Eu acho que eu nasci pra ser Chomsky nessa vida, um ato a mais do que ser gauche, né seu Drummond? 

E não é por espírito de porco (ou é, vai saber), como dizia meu pai, a pura e nata vontade de ser do contra. Não, é porque a minha linha de pensamento e sentir, a velha e boa psiquê grega, quase nunca vai de encontro ao que para todos, está bonito, está correto e está legal. Tudo bem que o discurso triste e vermelho pálido do meu pai, velho comunista, pode ter ajudado a manter esta minha inquietação aqui, como o grilo do Pinóquio. Ou isso, ou nasci com a programação errada, não é mesmo?

Eu era aquela menina de 12 anos em Fortaleza, que odiava o Tasso Jereissati, quando todo mundo o adorava, porque ele era o "galeguin' duzóio azul". E isso me soava hediondo, nefasto, porque o "galeguin' duzóio azul" comprava votos, pagava gente pobre para aliciar gente mais pobre ainda, num ciclo vicioso de malfazejos. Gente muito próxima de mim. Depois vieram os Gomes e a coisa piorou. 

Daí decidi fazer parte da UNE, da UJS. E me vi passível de corrupção quando usaram um stencil feito por mim, da foice e do martelo, da caduca URSS, não para decorar a sede da União, mas para pichar os muros da Universidade Federal e da área da Reitoria, onde eu dava aulas de desenho no Mauc. E eu me desliguei. Procurei o PCdoB. Fui a plenárias, senti-me representada no auge da inocência, aos 16 anos, para depois testemunhar venda de portarias (espécie de salário fantasma que se paga nas câmeras e assembléias legislativas por aí) a troco de panfletagem. E eu me desliguei de novo. E passei a odiar panfletagem, até verbal, em qualquer setor. Adendo: E isso, anos mais tarde me fez perder o mestrado, por não aceitar panfletagem pseudo intelectual disfarçada de estudos de Antonio Candido.

Já madura me apeguei ao Lula (e não ao PT), nas eleições de uma década atrás. E me desiludi. Mas amadureci ao ponto de enxergar o político por seu valor e não se seu constructo intelectual o coloca à esquerda, ao centro ou à direita dos jogos políticos.

E neste momento em que todos pintam como histórico, na minha opinião, mais pela quantidade de gente que se diz "despertar", que usam a péssima metáfora do "gigante adormecido" do nosso hino ou pior, o "vem pra rua", musiquinha ruim da propaganda oportunista de carro, eu que sempre estive acordadíssima, sinto um ranço ruim no fundo da língua, um sabor antigo e macerado, um déjà vu sensorial assaz incômodo. Porque as pessoas se dizem acordadas e não sabem de onde vieram e para onde vão suas súplicas. Usando como bode expiatório a presidente que está aí a três anos, exigindo melhorias imediatas, que só viriam no decorrer de décadas e décadas de aprumo da coisa pública, dilacerada pela Ditadura, que foi combatida por esta mesma presidente. 

Eu só posso encerrar lhes suplicando que, melhorem.

Imagem: capa antiga e linda do Raízes do Brasil de Sérgio Buarque de Holanda. Comecei a reler ontem, achei adequado. Minha edição é com Abaporu de Tarsila do Amaral. Sugiro que vocês tentem ler, sabe como? Instrução é o que vai salvar este país, nisso eu acredito. Adendo causo: uma vez, no tempo da escola, uma corretora de redação me anulou um parágrafo todo, porque eu afirmei que o alicerce básico para construir uma nação digna era a educação. Pois ela bateu o pé, disse que eu estava errada, não era só a educação que era necessária. Ou seja, uma professora! E pior, usando de correção achística, disfarçada de estilística, porque ela achava incorreta a minha ideia. E não refiz minha redação. E não revi meus valores, até hoje continuo acreditando que este povo tem que ser educado e instruído por bons livros e grandes ideias.

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