Autores injustiçados - Machado de Assis

>> terça-feira, 25 de junho de 2013


Fiz o exercício de vir aqui para escrever este post coletando todos os comentários injuriosos que já ouvi e li sobre Machado de Assis. E gente pensará que enlouqueci de vez, porque Machado é reconhecido, na verdade um dos poucos escritores brasileiros reconhecidos por sua qualidade literária e gênio por críticos do mundo todo. É o único escritor brasileiro citado n'O Cânone Ocidental do Sr Harold Bloom, livro odiado, porém referência nessa coisa toda de clássico, cânone, etcetera coisa e tal. 

É, Machado é tudo isso, e muito mais do que citações de nomes estrelados da crítica literária. Mas isso tudo não mudo o fato de que Machado é odiado e bastante odiado pelos leitores brasileiros. De fato, acho que só perde para José de Alencar. Adendo: nosso próximo injustiçado, aguardem.

Desde o meu tempo de escola até os dias de hoje, já reuni uma série de idiotices que ouvi sobre Machado: linguagem antiquada, (cê jura?), linguagem datada (pior), difícil de acompanhar, de entender, conteúdo pobre (oi?), folhetim pra senhoura ou, novela mexicana. Esta última ouvi em sala de aula de introdução à filosofia. O professorzinho, um completo imbecil, contou uma lorotinha de que sei lá quem pegou um conto qualquer do Machado, assinou e levei para uma editora, que se recusou a publicar por achar o conto ruim. E que diabos de editora é essa que não descobriu que era Machado de Assis? É, porque as editoras pesquisam para evitar plágio, quer dizer, um estapafúrdio completo. Até hoje sinto ódio desse episódio, que aconteceu dentro do curso de letras, uma tentativa de fazer alunos de letras odiar Machado de Assis ou no mínimo, ridicularizá-lo. Fiquei tão indignada que saí de sala. Nos meus primeiros anos de faculdade eu era conhecida como a "Machadiana" então imagine aí o quanto este episódio foi terrível.

Se procurar em forúns sobre literatura ou redes sociais tipo Skoob (não consigo levar a sério Skoob e cia, desculpe) sempre vai aparecer alguém para falar mal da literatura de Machado de Assis. E por que? Primeiro porque Machado pede maturidade, não de anos vividos, mas de livros (bons livros) lidos. E algum conhecimento ou simpatia por filosofia. Antigamente, no meu tempo, o primeiro contato literário sério que se tinha na escola era com Machado (e Alencar). Uma garotada boba, acostumada com Turma da Mônica, super não compreendia os olhos de ressaca, dentre outras metáforas machadianas maravilhosas. Fora a coisa da alma, porque certos livros pedem uma certa inclinação e isso acontece com Machado, que pede um leitor devoto, sem medo dos abismos e do não compreendido. Quando li Machado me encantei pelo o que não conhecia, anotei todos os livros e filósofos que encontrava em seus livros, como quem anota as dicas daquele professor genial. Machado foi o meu pai literário e eu acho lamentável que não seja assim para a maioria das pessoas.

Qualquer bom leitor reconhecerá a qualidade do texto machadiano. A cousa do gostar, deveras, isso depende do que cada um é feito.

Para ler Machado recomendo: 1ª uma boa coletânea de contos (sempre recomendo contos de um autor, porque serve como uma espécie de amostragem da escrita, é mais rápido e dá para se ter uma ideia do geral); 2ª Helena, o povo fala muito mal da fase romântica do Machado. A impressão que tenho é que não leram direito; 3ª Memórias Póstumas de Brás Cubas, porque é sensacional. Pirandello e Sterne versaram sobre o mesmo tema, mas Machado, ah Machado, leva a cousa para outra esfera. Seu Brás Cubas é encaixado no Realismo por mera convenção. Como um livro em que um defunto narra suas desventuras pode ser considerado realismo? Sabe como? ;)

Meus livros antiguinhos do Machado.

 
Os de capa dourada e vermelho são da Editora Globo, e são os mais jovens, mas já comprei em sebos. Aliás, todos os meus livros do Machado foram comprados em sebo. Esse senhor de capa dura verde com o rosto do Machado em baixo relevo tem 55 anos, comprei por 5 moças da República no Sebo do Seu Geraldo no Centro de Fortaleza. Contudo, sonho há tempos com uma edição novinha e cara das obras reunidas de Maneco.

Nos próximos dias vamos falar sobre sebos e livrarias, talvez seja amanhã, não sei ainda.




Bisous.

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