Sobre acessórios: bolsas

>> terça-feira, 15 de junho de 2010



Faz tempo venho observando como as informações de moda são mal transmitidas pela Internet, jogadas como fichinhas em gavetas, como se só merecessem a atenção que produtos de super mercado merecem: validade, fabricante, preço.

A história, o sumo criativo que pariu aquela peça e que a tornou icônica não.

Pode parecer um romantismo pensar desta feita sobre acessórios, mas continuarei romântica, porque moda para mim não faz sentido de outro jeito, como estão nos escritos de um livro querido sobre Yves Saint Laurent:

"O que é um vestido? Um pedaço de tecido que protege dos olhares ou do frio o corpo de uma mulher."

O que é um vestido de Saint Laurent? Uma chamada, a porta de um reino, um ar de dança, uma distância, também
não vai despir-se tão logo de sua reversa - uma soberania."

Quando penso em moda, não visualizo apenas as roupas e acessórios afins que estaremos usando numa temporada, nem tampouco me prendo às definições de dicionário:


mo.da
sf (fr mode) 1 Uso corrente. 2 Forma atual do vestuário. 3 Fantasia, gosto ou maneira como cada um faz as coisas. 4 Cantiga, ária, modinha. 5 Estat O valor mais frequente numa série de observações. 6 Sociol Variações contínuas de pouca duração que ocorrem na forma de certos elementos culturais (indumentária, habitação, fala, recreação etc.). sf pl Artigos de vestuário para senhoras e crianças. Antôn: antimoda.

O meu pensar moda sempre vem de mãos dadas com a história, as demais ciências humanas, as artes, porque como sempre insisto, moda desta feita é um bem social e não apenas roupa e afins.

Entendam, generalizando.

Óbvio que a marquinha que faz vestidinho de praia e sandália rasteira para carioca usar, e só isso, não entra neste balaio pessoalíssimo que criei para entender moda. Penso sobre gente que sai do lugar comum, que faz a gente sair. Já falamos muito sobre isso.

Mas vamos logo ao que interessa nestes escritos: bolsas.

Peça quase tão antiga quanto a humanidade, já havia registros deste artefato na Arte Rupestre, menções na Bíblia, velho Testamento, quase mil anos antes a.C.

Não precisa ser um ótimo observador de moda para perceber que houve uma evolução considerável de suas formas, e especialmente funções, desde a sacolinha tímida da Idade Média, às famosas bolsas icônicas que eclodiram nos idos de 1930.

As bolsas tomaram um outro rumo, assumiram outro significado, do que apenas auxiliar no transporte de objetos pessoais. Evoluíram para símbolos de status e por consequência, estilo e filosofia de vida.

E a que se deve este fenômeno? Aos nomes grifados que as criaram? Aos nomes estrelados que as usavam e/ou inspiraram?

De tudo o que li sobre, o que já digressionei e observei da natureza humana, inclusive mediante os meus próprios desejos e fissuras, posso sugerir que toda esta "evolução" da bolsa é fruto tão somente de nós mesmos e reflexo de que nós erigimos ídolos, coisas e pessoas (muitas vezes respectivamente) que na maioria do tempo não são nada de extraordinários, né?

Quão tolos podemos vir a ser. Porque uma bolsa é e sempre será apenas uma bolsa, mesmo as históricas, Chanel, Hermès, Luis Vuitton, por mais que tenham revolucionado um mercado e criado uma maneira diferente de se vender imagem, elas são apenas bolsas. 

Mas não se critiquem demais, porque a armadilha que nós mesmos criamos. Até eu mesma, tão crítica e assertiva, não deixo de me deixar cair, tão querida que me é a Speedy. Contudo, com a pequena exceção de que sei o que uso, de onde veio...

Historinha rápida do eu-te-cutuco-tu-me-cutucas que, digamos, fez surgir as primeiras bolsas icônicas.

Quem conhece um tantinho, mas se prende à ideia falha, de que história é apenas data e nome, pode vir a pensar, e lançar este juízo, de que a Chanel 2.55 nasceu nesta data. De fato, ela foi comercializada em 1955, e também foi considerada uma resposta as já icônicas e mercadológicas Hermès e Luis Vuitton, especialmente a Speedy.

Contudo, este modelo de bolsa, tão prático, pensado por Mademoiselle, é bem mais antiga, data da década de 1920, uma criação para si mesma, como tudo o que Chanel criou. Era a partir dela e dai para os outros.

Depois falamos mais sobre maman.

Bisous.


Imagem: Audrey e sua Speddy Louis Vuitton. Podemos entender Audrey como uma espécie de recriadora da imagem da bolsa como peça ícone.

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