Pensamento macabro

>> sexta-feira, 3 de maio de 2013



Passei algum tempo da minha vida me planejando para morar na Inglaterra, por um tempo, para estudar. E, se desse certo, ficar por lá mesmo, confesso. Não, eu não sou ufanista, patriótica, não acho que o Brasil é o melhor lugar do mundo, não morro de amores por arroz e feijão. Mas amo Guaraná Antarctica ;) .

O plano era conseguir passar nos testes específicos para estudantes que pretendem vaga em universidade britânica (no meu caso pós-graduação), essa parte, sem falsa modéstia, era até fácil. 'Difirci' seria juntar "o calção", a quantia estipulada para deixar como segurança, por conta do investimento que o Governo, no caso britânico, faria em você. É assim na Europa toda. Pois é, esse negócio de bolsa de estudos com tudo pago e beijinho na testa é mito, já que o montante é razoável para os padrões brasileiros. Nem todo mundo na terra brasilis poupa ou é ensinado a poupar. Mas deveria. Eu aprendi. 

Pois então, e já me correspondia com um grupo de pesquisa de lá,  gente linda que cita Virgina Woolf como um devoto cita a bíblia. Um sonho. Que se desmanchou quando tudo na minha vida deu uma reviravolta e vim parar aqui no Rio, casadinha e ilustradora da vida.

Mas um dia darei uma passadinha na terra de Lilibeth.

Uma das minhas melhores amigas, citada por vezes por aqui, está morando na Alemanha e sempre que nos falamos é muuito engraçado observar como mudamos um tantinho de opinião. Do nosso grupo, eu era a entusiasta dos ares europeus, aliás, quem plantou a sementinha de estudar na Europa no ♥ de todos fui euzinha. Curioso é reparar que a mais entusiasta, eu, hoje só planeja visitar como turista mesmo. 

Essa minha amiga também era muito afeita ao tema Europa e via tudo com muita boa vontade e bons olhos. Hoje, morando lá faz algum tempo, não é que ela perdeu a boa vontade, talvez um pouco da paciência. Não, ela não sente saudades da comidinha brasileira, do guaraná, ela nem bebe refrigerante e nunca gostou das nossas comidinhas brasileiras, salvo as frutas e algumas guloseimas de festas juninas, mas nada que a mate de vontade. Aliás, neste aspecto ela está super adaptada ao paladar alemão. 

Ela está passando é por Um abuso às 'alemanzices'. Excesso de burocracia, muito mais do que no Brasil. Adendo: refletindo sobre o tema, ouso pensar que nossa burocracia é pinto perto da verdadeira burocracia ipsi literis que se pratica na Europa. Uma certa grosseira, uma certa aversão à cultura (difícil de imaginar?), um certo niilismo de alma. Teimo com esta minha amiga que isso é um mal da humanidade, que se manifesta em diferentes lugares, de diferentes maneiras. Leitores de Milennium, Tons de Cinza, gente que odeia museu e acha Downey Junior o ator (eu me divirto, mas né?), gente que só pensa no próximo carro do ano ou no preço da batata e variações do mesmo tema: o preço da Birkin, por exemplo. Em suma, gente vazia em certa perspectiva. O que não é de todo o mal. Para algumas orientações ocupar a mente com, sei lá, filosofia é motivo para arder no inferno ou num pelotão de fuzilamento, então né.

Talvez conviver com novas versões do cabeça oca esteja testando os limites dessa minha amiga. Variações do mesmo tema. passo por isso em proporções menores (não sei bem se menores, mas vá lá), pois existe o variante cabeça oca cearense e cabeça oca carioca/fluminense. Por vezes os daqui me soam muito piores que os do Ceará. Mensurando, acho que estava mais adaptada a suportá-los, algo assim. A perturbação daqui é nova e me dá ímpetos assassinos. Acho que é isso que minha amiga enfrenta, só que em alemão, comendo rabanetes, ruibarbo e comprando tulipas na esquina de casa. 

Agora me ocorreu um pensamento macabro, fiquei imaginando a figura substituta do funkeiro/pagodeiro/forrozeiro europeu... O horror.

Inté.

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