Sleeping Beauty

>> sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Talvez você não queira ler este texto porque decerto há de encontrar spoiler. Enquanto a escrita segue, as coisas ainda estão muito que frescas na cabeça, tal como um chá recém feito, fomegante. Assistido pela segunda vez, o que se trata nestes escritos, o filme da estreante diretora Julia Leigh, Sleeping Beauty.

Do filme se sabia, antes de assisti-lo, que a criadora e diretora da história Julia Leigh é novelista, roteirista e diretora. Sabia-se ainda que Sleeping Beauty não é uma versão do conto dos irmãos Grimm, A Bela Adormecida, ou melhor, que seria uma versão sombria do conto de fadas.

Essa primeira leitura, equivocada, já não agrada, mas deixa a curiosodade. Por que equivocada? Ora, porque contos de fadas, na íntegra, os textos originais reunidos pelos Grimm, por Perrault, por Andersen nada têm de bobo e bonitinho. Em sua essência eles são terríveis, concebidos por velhas avós que acendiam uma vela para Deus, enquanto deixavam um prato de leite com musgo para os duendes. Para assustar e trazer o terror aos corações, não só dos pequenos. A madrasta assassina, o caçador que mata o mau feitor ou o lobo mau, o príncipe que desperta a bela adormecida. Desperta para quê? Sem falar nos ogros que comem, literalmente, as cabecinhas dos inocentes. Lembrem sempre que na Idade Média crianças eram vistas como pequenos adultos. A concepção da infância é coisa da época vitoriana.

 Sobre o filme, sabia-se um pouco da escritora, sem nunca ter-lhe tocado nenhum escrito. Sabia-se dessa interpretação enquanto conto de fadas sombrio, que causou mal estar no público de Cannes, que façam favor em perdoar, nunca parece entender a cousa, Von Trier, por exemplo.

Agora que a película já passou pelos olhos, bem atentos e sem leitura prévia, por duas vezes, dá para afirmar que não é nada disso.

Sleeping Beauty de conto de fadas traz alguma nuança de absurdo, que são os melhores momentos do filme, diga-se de passagem. A cena das frutinhas, o trecho do documentário sobre os ratinhos do campo, a cédula, a mulher no ônibus, o quadro bem peculiar na sala de estar do prostíbulo, que aliás, é quase lynchiniano.

A alusão à Memória de Minhas Putas Tristes do brilhante Gabriel Garcia Marques, com trama similar e puxando um pousco mais, Michael Haneke, por conta dos planos fixos, a coisa geométrica, a frieza e a quase apatia de todos os personagens, não é coisa sensata. Garcia Marques está em outro patamar, o dos gênios. Haneke é espetacular. Julia Leigh não é genial nem espetacular, ao menos não com Sleeping Beauty. Foi quase muito bom. Mas há falhas que fazem o filme se tornar uma coisa vazia, o que muitos podem interpretar como um filme chato. 

Nesse momento é bom fazer adendo, pois há filmes que alguns consideram chatos por não entenderem, não alcançarem a linguagem, por falta de sensibilidade ao artístico. Não é o caso de Sleeping Beauty, o filme é em si falho mesmo.

 Conjecturando, talvez na tentativa de provocar no público o incômodo, retirando portanto os elementos de referência, de identificação, como a trilha e o próprio contexto das coisas, é que se caiu em falhas. Dai que se criou um vazio, uma desconexão com o espectador. Dai que né.

No mais, as interpretações são frias e inexpressivas, o que pode ter sido um recurso da diretora, ou seja, uma coisa propositada, pensada para ser desta feita, por conta da atmosfera fixa, mecânica, metáfora de alguma coisa que não funcionou.

Para resumir, Sleeping Beaty é um filme artificial, com lindas imagens metafóricas. E só.

Bisous.

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