A Excêntrica Família de Antonia

>> quarta-feira, 9 de novembro de 2011



Nos tempos da escola eu era a figurinha estranha, que apesar da estranheza cultivada com carinho como uma alfazema de primavera, estava cercada por diversos tipos sociais, como o parvo e o mais divertido de todos, o pseudo intelectual e analfabeto funcional.

Lembro da época em que meus colegas comentavem o novo filme do Ed Murphy, ótemo, e um dos tipos pseudo intelectuais comentava o Silêncio dos Inocentes, como quem comenta da chuva. A pessoa nem sabia do porquê do silêncio dos inocentes (ou das carneiros) e queria que a gente ouvisse, prestasse a atenção, ao invés de rir do amigo bobo da turma imitando o sorriso do Ed Murphy.

Até hoje eu passo por essas coisas.

A Excêntrica Familia de Antonia é o tipo de filme que me faz feliz, porque além da maneira como foi feito e da história, tudo muito bom, está quase que imune aos pseudo intelectuais e analfabetos funcionais. Provavelmente quando citado, causará um delicioso silencio e cara de "oi", mais ou menos como Jupiter Tree.

Assisti pela primeira vez A Excêntrica Família de Antonia anos atrás, na tv aberta, acho que um ano depois de ganhar Oscar de melhor filme estrangeiro, dentre outros prêmios realmente relevantes em termos artísticos de fato. Não, o Oscar não é relevante neste sentido, desculpe.

Foi um acontecimento em minha vida. Poucos anos antes eu havia acabado de ler os livros basilares de Machado de Assis, que por sua vez me empurraram para a leitura das tragédias de Shakespeare, do desgostoso realismo de Eça de Queiros, do azedume de Sterne e, por fim, do encontro árido com Nietzsche e Schopenhauer. O mais legal disso tudo é que na época eu já era dona de casa, com filhinhos e trabalhava com festas infantis. Fora minha cara de boba alegre.

E o que isso tudo tem a ver com Antonia? Ora, tudo, sendo bem filha da mãe spoiller. Um spoiller ancião, diga-se de passagem, com atraso de quinze anos do filme para o spoiller, mas tudo bem.

O filme não é o que parece ser. Tudo o que você ler sobre será superficial e, além do conhecimento de mundo para se identificar, é necessário uma certa dose de leitura cáustica.

Pois é, querido leitor, você terá que assistir Antonia ou lembrar da história, caso já tenha assistido, para entender porque o advento de assistir ao filme, após uma bateria de leituras do desgosto para com a humanidade, culmina em um acontecimento factual na vida do ser humano consciente de sua condição de gauche (torto) nessa vida.

Antonia passeia por sua vida, dos familiares e amigos, todos excêntricos, em uma Europa rural pós guerra se esvaecendo e retomando a vibração das cores. Tudo isso pautado no texto cômico, num cenário lúdico e com personagens quase bizarros, que nos convidam, juntamente com Antonia para fazer parte de sua vida, mais ou menos como os narradores dos livros do Machado.

É que eu assisti Antonia de novo, coisa recente, e achei por bem indicar.

Inté.

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