Crônicas da casa nova: a parede quadro negro

>> sexta-feira, 27 de maio de 2011


 Já contei para vossas mercês que meu primeiro (e último) ofício foi o de professora, não é? Se não contei e se vocês não se dispuseram a ler o about (sobre), fiquem sabendo, que sim, fui (sou) professor.

Primeiro dei aulinhas de reforço escolar (aqui no Rio chamam de explicadora, acho muito curioso) quando tinha um pouco mais de 13 anos. Uma romaria de criancinhas, umas como anjos outras nem tanto, todos os dias para ensinar o que suas mamães, ou por falta de tempo ou paciência ou preguiça não poderiam fazer, tomar a lição de casa.

Foram alguns anos, ajudou para que eu pudesse comprar material escolar da Tilibra e Faber Castel, comprar meu esmaltinho preto, meu pente de madeira, uma barrinha de chocolate prestígio por semana, tudo no armarinho próximo à praça da igreja. Pequenos luxos da minha vida suburbana. 

Lembro que inventei de comprar certa vez meia-calça, vermelha com brilhos, que usava para ir ao shopping domingo. A menina de tranças, short e meia-calça vermelha com all star. Estamos falando de Fortaleza de 1992, vejam só a vanguarda como já se manifestava em minha pessoa rs.

Lembro que na mesma época e no mesmo armarinho (o shopping center da minha vida durante anos) comprei uma lousa (um quadro negro)

Comprei minha mini-micro lousa, muito parecida com uma que comprei ano passado e que hoje está aqui na cozinha, da mesma feita muito baratinha, com uma caixa de giz colorido. Contudo, a sensação é diferente. Quando então aos 13 anos,  era uma aventura. No lugar da professora, com lousa, fileiras de olhos atentos (nem tanto as vezes) e o domínio do giz e da voz, que se desdobrava em algo maior do que eu era. Voz de professora, como dizem. Histérica. 

A sensação de agora, ao comprar minha mini-lousa foi uma mistura de sensações e lembranças de épocas diferentes:  nostalgia da ingenuidade dos 13 anos, do cheiro da praça, do armarinho da infância - mangueiras, pipoca-papel-plástico-borracha perfumada; das aulas do museu, ainda tão novinha - tinta óleo - papel vergê, canson - linho - terebentina - carvão; da sala de aula e outra de mim já adulta, formada, com diploma: de novo o giz e o verde das árvores da Santos Dumont, a cantina, o café, o cigarro, os livros. 

O quadro negro picurruncho da cozinha migrará para o quarto de papel de parede das meninas, recadinhos, pequenos desaforos por certo, cousas de irmãs.

Ganhei uma parede inteira para se fazer de quadro negro. Tinta comprada, acabamento à espera e uma nova fase para novas lembranças no branco do giz.

Inté.

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