A moda brasileira e o Brasil que existe
>> segunda-feira, 10 de janeiro de 2011
Faz tempo que estou pensando sobre moda brasileira e o tal conceito de maturidade.
Direto ao dicionário: do latim maturitate, o mesmo que madureza., idade madura, o grau em que as atitudes, a socialização e a estabilidade afetiva de um indivíduo refletem, como característica normal da pessoa adulta, um estado de adaptação ou ajustamento ao seu próprio meio.
Porém, o sentido que mais gosto de entender a maturidade é o da perfeição, que também é meio falho, mas já foge um pouco desta ideia, que me parece equivocada, de aproximar este estágio de perfeição ao tempo de vida de algo ou de alguém.
Porque todos nós conhecemos alguma coisa bem antiga que nunca funcionou direito, tipo aquele teu tio irresponsável e cachaceiro, as latinhas de vick vaporub, até a consciência humana. Por isso não gosto de associar maturidade a esta semântica mais conhecida, que é a do tempo de vida e as experiências.
Isso tudo para refutar todas estas desculpas, que é uma coisa muito brasileira por assim dizer (aliás, brasileiro adora pretexto, como diz muito sabiamente Kelly) de que nossa moda não está madura, porque somos um povo jovem, uma cultura jovem e ainda estamos a procura do que vem a ser a nossa identidade nacional. Ler Mário de Andrade é preciso, minha gente.
Vamos apreciar um exemplo vizinho, em termos de Américas, Estados Unidos, United States, Tio Sam, o grande Satã, como queiram.
Em termos de tempo ipsi literis, a colonização dos nossos primos ricos se deu quase setenta anos após a primeira colonização do Brasil. Contudo, o processo de independência dos Estados Unidos se deu quarenta anos antes da gente e também vale ressaltar, de caráter completamente diferente da nossa independência que foi uma farsa.
Tudo bem que podemos alegar que o sistema de colonização do que viriam a ser Estados Unidos e Brasil forma bem diferentes e ainda, que os povos que surrupiaram as terras também foram bem distintos. Mas não há como usar o pretexto e a desculpa da maturidade para a avaliação do alcance e da importância da moda brasileira, ainda se mostrando, muito timidamente, ao resto do mundo.
Ainda mais quando a gente lembra que Calvin Klein, americano, mudou o rumo das coisas, influenciando até a ditadora (em termos de moda) Paris, levando as linhas simples e mais, o jeans para as passarelas. E antes disso, os anos dourados de Hollywood, a moda jovem da década de 1950 e a influência do Rock n' roll, a contracultura nascida em São Francisco, e até, vejam só, o Beatnik.Tudo isso refletiu, reverberou (adouro) e se desdobrou na moda americana e desta para o mundo.
E o Brasil? Tivemos o samba, o chorinho, a bossa e o mais louco e a cara do Brasil. a tropicália (leiam a Verdade Tropical de Caetano), que são os nossos grandes movimentos representativos, mais do que quaisquer outros. E 'cadê' este rebuliço todo em temos de moda? Procurem o Moda- Rio de 1970 que é por ai, de resto, o resto.
E vale ressaltar mais uma vez que, os Estados Unidos são uma nação bem mais jovem que a brasileira, portanto, o problema não é o tempo.
O que houve de errado, equivocado, para a nossa moda ainda estar no processo de aparecer para o mundo (fora bananas, coqueiros e praia) é esta vontade de fingir que não é Brasil (a caricatura), que é o processo que a gente ainda passa (salvo raríssimas exceções como Villaventura, Walter Rodrigues, Ronaldo Fraga) e esta vontade 'residual' (sic. piada interna) mesmo de mostrar-se universal.
A gente sempre é o que está em nossa essência e o Brasil existe, minha gente!
Manifesto Pau-Brasil, Oswald de Andrade.
Até mais ver.
Imagem: Capa da 1ª Edição do livro de poesias, de Oswaldo de Andrade, ilustrado por Tarsila do Amaral. Uma literatura extremamente vinculada à realidade brasileira, a partir de uma redescoberta do Brasil.