Lembrar (e trabalhar) é preciso
>> quarta-feira, 4 de agosto de 2010
Talvez porque estou num estado de começando tudo de novo, amando muito a situação gerúndica, com medinho das faces futuras, né; porque é bom ficar com medo das coisas, só não é legal parar. Mas o certo é que, nesta fase de minha vida, estou bem que saudosa de experiências antigas de começar alguma coisa, resgatando quase que a toda hora as sensações nervosas, felizes, e até as frustrantes do primeiro emprego.
Isto tudo foi reforçado ainda por estes escritos da Garance Doré, porque o fato de que você é chérie da Roitfeld, vai a todas as lindas semanas de moda parisienses (dentre outras rs), é uma ilustradora maravilhosa (minha musa ♥) e tem lá o petit detalhe (pra mim é petit mesmo) de namorar o Sr. Sartorialist, não quer dizer que você não passou perrengues na vida.
Adendo: também ficaria super feliz de saber da primeira experiência de emprego da chérie Ana Clara Garmendia (minha outra musa linda ♥)
Já comentei algumas vezes qual foi, de verdade, minha primeira experiência de emprego aqui e um pouco aqui. Eu tinha mal completado os 16 anos, mas estava com muita vontade de ter o meu dinheirinho, num montante um pouco mais significativo, do que conseguia com aulas particulares para fedelhos mal educados e mimados. E o que sabia fazer melhor que qualquer coisa, fora arranjar paciência (que até aquela momento eu não sabia, mas era uma paciência materna rs) era desenhar. Então uma pessoa próxima me falou desta vaga de figurinista (um zé mané que fica desenhando roupas feias para clientes feias que compram tecidos feios; não há definição melhor rs) nesta loja de tecidos lá em Fortaleza. Pra mim a quantia que pagariam por meio turno de serviço era uma fortuna e eu nem pensei duas vezes, fui me apresentar, levando meus desenhos. Como avaliação me pediram para desenhar um vestido tal de uma revista (destas de moldes, sabem?) e fui aprovada na hora. Entregaram-me o uniforme (como disse era pavoroso) e eu estava lá de segunda à sexta, religiosamente das 12:30 às 18:30, acompanhada de meu all star risco de giz e minha mochilinha estilizada.
Neste emprego apendi logo de cara que inveja tem uma cara muito feia.
Meu coleguinha de trabalho da mesa ao lado, o outro figurinista, era um protótipo de estilista (neste tempo a gente em Fortaleza ainda falava costureiro rs) recalcado wanabe Ésper, que fazia uns desenhos assim... arte naïf num ataque de apoplexia, e se mordia com os meus desenhinhos, tadinhos, e com a minha pouca idade. Levou muito cutoco e língua pelas costas, porque eu era muito ariana nesta época ou seja, super moleca rs.
Também aprendi como estas casas de tecidos tem vendedores mal intencionados e que roubam na cara dura os pobres clientes cortando sempre menos tecido do que a pessoa está pagando. Menos quando pegavam uma costureira de olhar aguçado e sagaz, algumas antigas costureiras do velho Montese. A estas, os vendedores de tecidos nem tentavam mais ludibriar, porque era inútil.
"Coloque esta régua no lugar certo que eu estou pagando por dois metros e meio, largura dupla, meu filho."
Aprendi com estas costureiras a como não ser enganada em casas de tecidos e a meio que saber de olhômetro se o danado está me roubando na metragem.
Com os vendedores, aprendi a diferenciar um tecido bom de uma porcaria, o que super me valeu, apesar de que era um exercício de paciência fazer com que me mostrassem a diferença de textura, e até de trama, de um linho puro para um linho misto, de uma seda realmente pura e uma que até engana. Na verdade foi uma senhorinha vendedora, uma das mais antigas, que era uma das mais chatas, mas era a mais honesta , que depois de encher o saco dela "por favor por favor por favor", ela me ensinava rs. Teimosia ariana é o máximo aussi. Adendo: em verdade eu vos digo que sempre esperei que as pessoas tivessem a paciência que eu super procuro ter com todo mundo, mas né, nem sempre é isso que acontece rs.
Apesar disso tudo, a experiência que eu considero a mais edificante foi, mais ou menos na mesma época, na Oficina de Arte do MAUC (Museu de Arte e Cultura da Universidade Federal do Ceará).
Primeiro fiz o teste para ser aluna da Oficina. Era um projeto super bacana, para ensinar técnicas acadêmicas de desenhos, pintura, escultura e fotografia para qualquer pessoa. Na verdade cheguei à Oficina através do jornalzinho da escola, que ganhou prêmio de melhor tirinha. Sempre desenhei de instinto e de olho. Na Oficina eu aprendi os nomes dos materiais e a aperfeiçoar o desenho com lápis certo para cada intenção. E foi muito bacana também, porque não me 'xoxavam' porque eu simplesmente amava lápis de cor, como amo até hoje. Na verdade eu era super incentivada a continuar o trabalho com lápis de cores. Meu professor até cantarolava a musiquinha linda do Toquinho, Aguarela, que foi tema da Faber Castell durante anos, (lembram?).
Bem, eu aprendi tanto, com tanta vontade e tão rápido que virei instrutora de desenho voluntária rs. Me tomava a vida, mas eu era tão feliz lá.
E estas foram as minhas experiências, nem preciso dizer qual que eu gostei mais, né? rsrs
Contudo, alguns anos depois, quando entrei na Universidade como aluna, procurei o Museu de novo e ele estava tão mudado, não haviam mais os projetos e ele era frequentado (no sentido de estagiários e bolsistas da universidade) por aquele tipo de intelectualóide pseudo existencialista, metido a profundo; um saco.
Tão diferente da minha época na Oficina.
Meus professores não estavam mais lá, era outra coisa que não me agradou e que me fez ficar bem distante do museu.
Aliás, este período de universidade me fez ficar distante de um monte de coisas e um pouco de mim mesma. Mas a gente sempre volta, de alguma forma, para as origens. Eu voltei aos meus lápis de cores ♥
Bisous.