Moda brasileira, sua erê boba
>> quinta-feira, 1 de julho de 2010
Já falei alguma coisa por aqui sobre minhas dúvidas acerca dos motivos que fazem a moda carioca ser encarada em um segundo plano, ainda mais quando a gente sabe que, nem faz tanto tempo assim (até porque a moda brasileira é uma erê brincando de adulta) a moda carioca era reconhecida, estimada e até certo ponto vaguarda, perante uma SP convencional, para não dizer, europeia/francesa, mas tudo bem.
Depois de muito pesquisar, consultar meus alfarrábios sobre o assunto, especialmente a leitura de uma dissertação bem razoável sobre o tema e ainda, minhas anotações na "breve história da breve história da moda tupiniquim", anotações estas da aula que assistia como ouvinte do curso de estilismo e moda da UFC, então, depois disso tudo, que é pouco, mas já é alguma coisa, depois de alguns comentários bem elucidativos do pessoal de agora que inclusive faz a SPFW, de muitas maneiras, vamos dizer assim, cheguei à conclusão de que o Rio não é menosprezado, pelo menos não como eu pensava, mas de uma outra forma, que, para o bem e para o mal, existe. Mas não é deixado em segundo plano, de um certo ponto de vista, porque o cenário é lucrativo, e muito, e as pessoas precisam disso, de uma maneira ampla.
Esta nação de que a moda que vale à pena é SP, é uma imagem que vem sendo criada desde o Phitoervas Fashion (dai o Morumbi Fashion Brasil e dai o SPFW), arrematado pela Santa Marcelina, pelo SENAC SP e pela industria têxtil brasileira, que meio que apostou as fichas na terra da garoa, porque no idos de 1990 a coisa começou a ficar feia na terra da bossa nova. Falências, perca de divisas e a até então credibilidade no setor, fizeram as coisas mudarem de rumo.
Contudo, a moda carioca que, revolucionou os biquinis, a malharia, as estamparias, que criou o maldito, mas internacional fio dental (e a canga também né) o lifestyle carioca, já havia ganhado o mundo como a referencia maior do estilo brasileiro. No mercado internacional o que pesa e o que as pessoas lembram é da Carmen Miranda e a república das bananas, do beachwear, das legístimas havaianas e isto tudo é muito Rio. Por mais que, numa hegemonia, o mercado de luxo pensado e criado no Brasil venha de SP, é o Rio até hoje que puxa o imaginário da moda brasileira, é o que o 'gringo' quer ver e estamos falando de 50, 60 anos de imagens desta feita.
É muito irônico e me fez olhar diferente para o nosso cenário modístico, vendo engrenagens e um teatro de marionetes, que apresenta uma imagem que estão tentando construir, 'da moda brasileira para brasileiros', quando no exterior somos a mesma coisa carioca feelings a mais de meio século.
Dai, ao invés de ficar preocupada com um suposto boicote à moda carioca (que até existe mesmo) fiquei mais preocupada com o estado estanque das coisas. Ou seja, o buraco é bem mais embaixo.
Acho que mais do que relembrarmos o grupo Moda-Rio (que teve como objetivo melhorar o espaço de divulgação dos trabalhos dos criadores de moda do estado da Guanabara, mas por uma série de fatores até cresceu, até apareceu, mas render que é bom...), que era o que eu queria com a ideia inicial da postagem, é melhor tentar entender que, por trás do encantamento da feitura das coisas, da moda que expressa, do consumo que leva ao prazer, de fazer looks e achar lindo o desfile de fulaninho, era bom ao menos a gente tentar sorver direito como são feitas as coisas e o que querem que a gente entenda e compre. Aquela diferença entre ver e enxergar, sabe? Pois é.
Bisous.
Imagem: 'Morro do Rio' de Cândido Portinari, descendente de italianos, nascido em SP. Estudou, viveu e morreu no Rio, envenenado por suas próprias tintas, que o consagraram. Pensem sobre ;)