Chanel, uma megera histórica. Né?

>> quinta-feira, 29 de julho de 2010


Ontem falei de Jackie O., que alguns biógrafos língua de trapo (na minha opinião) pintavam como uma megera. Dai lembrei que faz algum tempo, prometi estes escritos sobre Chanel, numa conversa que tive no twitter.

Jackie foi muito importante para Chanel e vice-versa. Foi ela quem "popularizou" o conhecimento da perfeição do tailleur Chanel, portanto o recolocando no lugar de vestuário ícone. Pra vocês verem como são as coisas.

Mas vamos ao que interessa: a megera mor, maman, Chanel.

Todo mundo que me conhece sabe que a Chanel faz parte da minha vida rs.

Não, eu não tenho um closet abarrotado de peças da marca, nem do pret à porter, de valores menos estratosféricos. O que eu tenho é, até certo ponto, acessível, no sentido material. Nunca me endividei para isso. Basta ter o gosta para tal, trabalhar, et voillà, tu peux acheter (você pode comprar).

Faço esta introdução, porque tem uma linha de pensamento por esta bloglândia que, por algum motivo que eu não consigo entender, parece se regozijar em apontar que fulana quer aparentar uma coisa que não é, como quem "come galinha e arrota faisão" (porque este negócio de caviar e sardinha só me lembra a porcaria duma banda de forró escrota lá do Ceará, 'caviar com rapadura'... prefiro evitar a máxima. eu odeio muito forró eletrônico). E ainda tem quem esbraveje com quem de fato come o danado do faisão rs. Vai entender, ?

Voltando...

A Chanel faz parte da minha vida desde que eu era um pingo de gente. Eu tinha uma tia que usava o nº 5 e ficava toda 'gabola' de si, que usava o parfum da Marylin Monroe. Esta pessoa era uma existência horrorosa, mas ela era um tanto divertida. Especialmente quando bebia. O certo é que eu, uma erê curiosa que nem gato, registrei aquelas informações: Chanel, chic, nº5, Marlyn Monroe e guardei aquilo tudo como a fórmula de alguma coisa realmente muito boa, que eu não entendia muito bem, mas que fazia a minha tia, apesar de ser uma monstrinha odiosa, ser interessante aos meus olhos. Depois descobri que isso é glamour rs.

Quando amadureci minhas ideias, descobri o glamour (apesar de que gosto mais do decadente, nouvelle vague rsrs) então pude entender que aquelas informações que registrei: Chanel, chic, nº5, Marilyn Monroe, eram apenas a ponta do iceberg de tudo o que faz a Chanel ser o que é, um ícone. Mesmo que muita coisa indique que ela era uma demônia. E dai?

Não sejamos ingênuos, a moda é feita de demônios e não de santos. Lembrando que demônios são anjos mal comportados, sendo bem lúdica. Livro de Enoch pode ajudar vocês rs.

Esqueçam estes filmes (até plásticos, até bonitos, até fotográficos) sobre a vida da Chanel. Ela não era só uma coitadinha de uma órfã que lutou bravamente para sair da imposição terrível de não ter família, berço, classe, dinheiro na França do início do século XX. Sim, ela foi isso tudo, mas todos nós sabemos (lendo as suas biografias, assistindo testemunhas da época descascar a víbora europeia que era Mademoiselle) que ela era ardilosa, sorrateira e uma inimiga terrível.

E ainda tem o caso, documentado e tudo, sobre sua aliança com o nazismo.

Darei minha opinião sobre, lembrando que é minha opinião apenas, por mais que eu tenha lido (acho) todas as biografias disponíveis no mercado sobre a pessoa, mesmo que eu tenha procurado ler inclusive os estudiosos da época que se ocuparam em enumerar os crimes de "colaboração" com o nazismo, e que isso tudo parece muita informação e que eu super sei o que estou escrevendo, é apenas a minha opinião.

É fato que ela se envolveu antes da segunda guerra, com um simpatizante do partido nazista. É fato que ela tinha contatos com alemães. É fato que durante a invasão à França ela estava no Ritz, que era a sede da ação dos oficiais nazistas em Paris. É fato que ela inclusive namorou um figurão do lixo nazista durante aquela atrocidade. É fato que ela agiu de forma hedionda com seus sócios judeus.

Só que é fato também, para qualquer pessoa que conheça um pouco da história de vida da Chanel, que ela não tinha perfil nazista, ela não acreditava numa raça superior, até porque nesta perspectiva ela mesma era escória, porque ela não era ariana rs, não faz sentido este argumento.

Acho ainda mais bizarro é a pessoa sugerir que o logo da Chanel, os 'c's se cruzando, é uma alusão à suástica nazista (que por sua vez foi roubada de doutrinas orientais e corrompidas para toda a vida, um absurdo!).

Ela era sim, oportunista. E, seus sócios judeus não eram nada santos, bonzinhos, coitadinhos. Os boicotes entre eles rolavam soltos e cada um fazia das suas para puxar o tapete do outro. Podem ter certeza. Ali era cobra devorando cobra. Com o pormenor, no meu ponto de vista, até importante, de que quem criava era ela, né? Quer dizer...

Para encerrar, Mademoiselle só não foi presa, após a segunda guerra, porque Churchill intercedeu. Todo mundo que sabe da "historinha", tem conhecimento da visita que Chanel fez ao Chruchill durante a guerra para, dizem alguns "pesquisadores" (ênfase nas aspas) propor aliança com os nazistas. Eu não acredito nisso. O desenrolar dos fatos, a história após tudo isso, desmente esta bagaceira toda. Caso contrário, o velho e sagaz Churchill não teria livrado a cara da megera na hora em que ela precisou.

Continuo achando muitas coisas que Chanel fez terríveis (nem tanto estes relatos, em tintas fortes, do período da segunda guerra) mas tenho a consciência que ou era assim ou a Chanel nem existiria.

Ela existiu, pra fazer a gente sonhar com os batons Paris, com as sapatilhas bicolores, com as 2.55, o corte de cabelo, as pérolas, o tailleur, ou para fazer pessoas super interessantes e curiosas, só que nem tanto ao ponto de não abarcar apenas a sua visão de área, como a Mary Del Priori, ótima organizadora de textos (tenho dois ótimos livros dela que recomendo aqui e aqui) escrever sobre a megera histórica que foi Chanel, ?

A gente precisa de vilões e carecemos bastante de demonizar as pessoas.

Floral aldeído à tout le monde !

Bisous.


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