Sobre Brechós

>> quinta-feira, 19 de novembro de 2009


Há tempos penso em falar sobre brechós aqui, pois é algo que aprecio bastante e que sempre habitou meu imaginário, antes mesmo d'eu colocar meu pé num brechó decente ainda em Fortaleza. Por sinal este tal brechó nem existe mais, assim como a simpática livraria vizinha, que aliás, fechou antes do brechó, ali, encrustadinho no coração da Aldeota, próximo ao Shopping mais bacana da cidade, Shopping de nome homólogo ao bairro.

Tais fatos já indicam como aqui no Brasil a gente não cultiva muito a cultura do vintage, do brechó, bem diferente da Europa, US, Japão.

Há quem ache nefasto o fato de se usar roupa que foi sei lá de quem, por nojinho ou superstição. Quanto ao nojinho, nada pode ser feito, é melhor evitar mesmo, mas em relação à superstição, lavar a roupa com um punhadinho de sal grosso já ajuda, ? Aliás, tem brechó que já faz isso.

Tem uma outra leva de pessoas que simplesmente não gostam de brechós pela ideia que têm das pessoas que frequentam e/ou que trabalham nestes lugares, os temidos "fashionistas de brechó" (rs). Seria aquele tipinho metido a descolado, afetadinho, chatinho, senhor de todo o conhecimento fashion e que te "scanneia" com o olhar. Pois é minha gente, existe mesmo este tipinho, mas me diga se este mesmo tipo não habita as lojas trop cher dos shoppings, das grifes, a Daslu com sua muamba-chic novinha novinha? Pois é, preconceito é um negócio que nos deixa cegos.

Mas voltando, a ideia acentuou-se mais ainda ao prestar atenção numa espécie de vulgarização do termo brechó, que acontece em alguns lugares. Aqui, "por trás dos montes", é vasta esta safra de bazares ruins que tascam uma placa brechó pra vender roupa velha, surrada das últimas coleções de lojas populares, daquelas bem ruinzinhas mesmo. Fora utensílios de decoração medonhos e até chinelinhos customizados com um monte de miçangas e demais balangandãs que sinceramente, me dão aflição, tanto o chinelo quanto o tal tipo de bazar por completo.

Isso não é brechó.




Pode ser que tenha uma visão romantizada deste tipo de comercio vintage, muito ajudado pelos filmes '80 americanos e suas delícias de feiras de garagem, que ganham de goleada, como se diz, deste tipo de bazar/brechó tosco.

Vale ressaltar que um bom bazar é uma ótima ideia, assim como um bom brechó, um brechó de verdade é melhor ainda. Trata-se de uma questão super bacana, pelo menos no ponto de vista de quem gosta de agregar história e informação de moda à roupa. Óbvio que isso também pode ser feito com roupas novinhas de coleção mais novinhas ainda, mas trata-se de outras informações e histórias.

É bom abrir os horizontes e perder certos preconceitos, porque muito além do que lojas que vendem roupas usadas, bons brechós são verdadeiros achados e que podem vir a te proporcionar verdadeiras aulas de história da moda.

E mais, grandes revistas, figurinistas de teatros, da televisão e da sua santa novelinha, meu bem, garimpam em brechós brasileiros, franceses, ingleses, americanos, especialmente os famosos brechós de NY. De repente aquela bijoux que te deixa louca-de-inveja que a protagonista da novela usa é peça de brechó.

O mais legal dos brechós, no meu ponto de vista, é conseguir aquela peça exclusiva, linda, única e que todo mundo te pergunta de onde é. E assim sigo feliz com meus camafeus, todos adquiridos em brechós.

E também a possibilidade (quase sempre certeira) de conseguir peças antigas para o guarda-roupa atual, que te possibilita uma certa individualização, um caráter de diferenciação que super enriquece a indumentária nossa de cada dia.

Óbvio, não é tão fácil assim, é chegar ao brechó e se apaixonar e sair de lá com o guarda-roupa renovado e cheio de personalidade. Até porque a maioria dos brechós são meio bagunçadinhos, amontoados sim de algumas tranqueirinhas, inclusive os muito bons padecem deste mal. Mas garimpar é preciso.

Super encorajo para que procurem os brechós de sua cidades, façam uma visita, mesmo que não gostem de nada, não custa tentar. Mas vá de boa vontade, ok?


Imagens: 1. 1966 Magazine Advertisement; 2. 1969 Magazine Advertisement
"The Can Bag" Campbell's Soup. (iria morrer feliz da vida se encontrasse esta bolsinha!)

Postar um comentário

Salut!

As amigos que sempre vêm por aqui, é muito bom contar com a participação de vocês.

Aos que escrevem pela primeira vez, sejam bem-vindos.

Aos que preferem postar anônimo, saibam que serão liberados se:

usarem o espaço de forma sensata, porque a gente não chega na casa dos outros com libertinagem, esculhambação e nem jogando lixo.

"O Centro por toda a parte, o epicentro por parte alguma." Pascal.

Au revoir.

Related Posts with Thumbnails
Creative Commons License
Reverbera, querida! por Eliza Leopoldo está licenciada sob Licença Creative Commons Atribuição 2.5 Brasil.