Dona de casa - Dona da casa
>> segunda-feira, 14 de abril de 2008
Incrível como a língua portuguesa é cheia de faceirices semânticas, trocamos um "de" por "da" e o sentido se altera.
Quando falamos "dona de casa", lembramos logo daquela figura caricata, daquela música rídicula do "avental sujo de ovo", é muito péssimo.
Já quando usamos o "dona da casa", queremos falar da senhora da casa, a que manda, comanda.
Na minha opinião e como configuro, enquanto dona da casa, sou dona de casa também. Ou seja, além de comandar e administrar, eu cuido, zelo e tudo o que está relacionado a esses verbos. A mesma que faz as compras, paga as contas e lê Dorian Gray é a mesma que cozinha, lava a roupa, cuida de crianças, dá aula de Literatura e tricota, ambos os sentidos.
Mas existem aquelas que se tornam, não mais por força da época e costumes, apesar de sermos latinos e retrógrados, donas de casa.
Estão noivas, casarão e a coisa mais extasiante que farão em suas vidas será aproveitar as liquidações dos supermecados no natal.
Há algum mal nisso? Claro que não, de jeito nenhum! Desde que estejam felizes com o que estão vivendo, e não fiquem frustradas, culpando os maridos, os filhos, a divina providência.
Do mesmo jeito as modernosas, que não querem nem ouvir falar de aventais, nem que sejam da Tok Stok com gravuras do Warhol, e que acham que seu papel para a sociedade atual está representado justamente em negar o seu pretenso lugar de dona de casa - fritar ovo jamais!
Há algum problema nisso? Depende.
Se esta persona modernosa não quer receber a alcunha de dona de casa, mas é dona de sua casa, está tudo bem. Todavia, se ela não sabe sequer o valor atual da bandeja de ovos, temos problemas. Porque mesmo que ela coma, para o resto da vida, em restaurantes, sem saber o real valor das coisas, como ela vai poder mensurar se estão lhe cobrando um valor justo ou estorquindo-a?
E mais ainda, a verdadeira questão por trás desta minha introdução: como você pode supor-se dona de algo que você não administra? E pior, não frequenta? Sua própria casa? Será esta residência, apartamento, depósito de seus pertences e pouso para sua dormida tão somente? Ou quererá você torná-la um lar? E eu lhes garanto, não comprando um ramo de alface nem sabendo quanto este custa, um lar não se tem.
Então, o que quero lhes dizer é: sejam sempre donas de suas casas, mesmo que não queiram ser a dona de casa que espana tudo, faz faxina, limpa milimetricamente o azulejo do banheiro, que sabe que cebola fica melhor para que tipo de carne, a que faz aquela comidinha caseira com tudo fresquinho ou aquela mãe super gourmet que faz aqueles pratos super sofisticados, ou uma melange dos dois, como eu tento ser rs.
Não precisa de nada disso para ser dona da sua casa e de sua vida. Só precisa ter aquela noção do que é seu e cuidar bem, porque é seu patrimônio. Aquela conversa de que é seu, você cuida do jeito que quer, ou seja, não cuida, é conversa de gente sem propósito, que não deveria sequer ter pensado em sair de perto da barra da mamãe.
E, para quem por cá me lê e não quer mais depender do arroz e feijão da mamãezinha, e quer dominar sua casa como domina os comandos de seu celular, ou algo que comande direito, vão aqui umas dicas de quem um dia explodiu um bolo e hoje faz suspiros, sem quebrar as unhas:
Em primeiro lugar, olhe para sua casa com carinho. Seja de que natureza for, grande ou pequena, luxuosa ou simples, com projeto de decoração ou toda montada por você com peças avulsas, quitada, financiada, alugada, em suma, é sua casa, sua. Portanto, olhe para ela com carinho, com cuidado, é daí que todas as coisas boas nascem e que se faz um lar.
Outra cousa, mesmo que você não cozinhe, não limpe, que contrate uma pessoa para esses afazeres, você não pode entregar tudo nas mãos de alguém que trabalha para você, mas não é você, não é a dona da casa. Se ela vai cozinhar, que seja com um cardápio seu, à sua maneira, com seus temperos, para você e os seus.
E como você vai conseguir fazer isso?
É simples: você tem que saber o básico do funcionamento de uma cozinha, que não é um bicho de sete cabeças, de forma alguma. O belo fogão que você comprou não é um monstro, por mais que a descrição 4,5,6 bocas pareça; a máquina de lavar roupa não é uma parafernalha da NASA; sua geladeira não é um iglu.
Então, queridas, se o cuidado e administração de um lar lhes parece uma aventura soturna, aventurem-se até constatarem que nada há de assustador. E só vai errando mesmo, gente. Uma hora se aprende.
Se você passa a semana toda fora e só está em casa nos fins de semana, isso não quer dizer que sua geladeira deva ficar em um estado de periclitância. Não é porque não come em casa de segunda à sexta que não vai contar com frutas, verduras e laticínios. Tudo pouquinho, para dois, já que de começo, geralmente, é assim.
É sempre bom ter para a semana coisinhas boas para o café da manhã, como leite, chá, café, iogurtes, frutas, pães, geléias, patês, margarina, frios, essas cousas. Então, todas esses itens podem ser compradas por semana, pequenas quantidades. Fora que você vai olhar para a despensa, armário, geladeira e vai sentir-se bem, sério!
Se você está de regime, é só trocar por desnatados, integrais, naturais, deixar de lado o açúcar; e por favor, faça-se um bem, não use produtos light, diet, adoçantes a não ser que realmente precise, como o caso de diabéticos (se bem que tem uma dieta especifica para eles que não precisa dessas porcarias químicas).
Para o fim de semana, você pode fazer umas comprinhas para as refeições de sábado e domingo, fazer uns grelhadinhos, um arroz branco simples, uma saladinha verde,com legumes frescos, sucos naturais.
Ponha a mesa, faça um carinho com jogos americanos, uma porcelana branca, faz um servicinho à inglesa, que é sofisticado, mas não tão fresco como o francês, ou seja, dá para fazer nos fins de semana direitinho.
São coisas que vão fazendo de você a dona e senhora da sua casa. São essas coisas que têm seu toque, sua marca pessoal, que te dão esse status, e não propriamente saber fazer uma milanesa.
Uma mesa de café da manhã para dois, com frutas, pão, leite, achocolatado, arrumado com cuidado, coisa que pode ser feita por qualquer um, todo dia. É um carinho que se faz a si e à quem se quer bem.