Sobre mulheres - O Sorriso de Monalisa

>> terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Conversando(intrometendo-me) na postagem de Dona Noiva(AQUI), sobre casamento e pipoca, comentei sobre seus escritos, ótimos! Há uma bela lista de filmes sobre/com casamentos. Mas senti falta de um, que é e não é sobre casamento, justamente, O Sorriso de Monalisa, que numa pincelada primeva, nos traz a chegada da audaz professora de arte, Katherine Watson à tradicional escola para moças Wellesley College, que realmente existe. O Filme foi dirigido por Michael Newell, diretor inglês que conta em sua carreira com um certo filme, este muito casamenteiro; nem tanto se levarmos em conta que os personagens principais não se casam de fato... bem, estou falando de Quatro Casamentos e um Funeral(Adentros - particularmente adoro quando os personagens de Hugh Grant apanham, como nesse filme, ele faz umas caras ótimas de "not my hair!", como em Bridget Jones, os dois - dá-lhe Colin Firth! - e no próprio Quatro Casamentos e um funeral, no altar, da noiva abandonada, perfeito!).
Voltando, ocorreu-me falar sobre O Sorriso de Monalisa, que mais do que apresentar moças preparadas para se tornar esposas e mães cultas e prendadas, fala sim, de mulheres.
No filme, podemos entender o título, O Sorriso de Monalisa, remetendo ao pensamento de que o quadro é o retrato de Isabella de Aragão. Seu famoso sorriso melancólico e inigmático, revelaria na verdade seu perene estado de tristeza, pois seu marido era impotente, alcoólatra e a agredia, conhecida como a mais infeliz esposa do mundo. Desta feita, uma metáfora sobre a figura da esposa que não é feliz apesar de aparentar ser, ou do papel da mulher, enquanto espectro da vida do marido, sem identidade própria.
É um tema duro que se apresenta no filme, através da personagem Betty Warren (Kirsten Dunst), que toma o caminho do casamento, por força de pressão social e acaba por constatar que ele não é garantia de felicidade e nem de segurança social. Seu mundo desmorona quando descobre que o marido a trai. Ela se reergue e assume então uma postura completamente diferente da mocinha casadoira de antes.
Mas, há o contraponto com a personagem Joan Brandwyn (Julia Stiles), que é excelente aluna, culta, doce e forte ao mesmo tempo, que abdica de ir para Yale porque assim o quer e não por pressão da família, da sociedade, do noivo, que pelo contrário, a apoia. E este é dos temas verticais do filme, na minha opinião, a mulher que opta pelo o que a faz feliz, pelo o que a realiza, acima de tudo, mesmo acima dos ideais libertários femininos, da professora querida e estimada Katherine Watson (Julia Roberts).
Aquele desejo expresso no início do ano letivo de Wellesley College, de forma quase ritualística, “despertar meu espírito por meio de muito trabalho e dedicar minha vida ao conhecimento”, não soa falso quando constatamos que a mesma aluna que o declama é justamente nossa Joan, que sabiamente escolhe o que lhe faz ser feliz, acima de causas e convicções políticas, ideológicas, postura esta de extrema sinceridade consigo mesma, como é a postura de Ms. Watson, que opta por não se dedicar a um casamento. Duas posições extremamento válidas e, livres!
Particularmente gosto muuuito do filme e seu mundo feminino clássico, retratado pela profusão de detalhes na decoração(coisa muito feminina), pelo figurino, pelas flores, presentes também nos presentes que as garotas oferecem a Katherine, pelos chapéus, pelos tules e véus, pelo romance, pela música! Certo, é um mundo feminino recortado, uma amostra da amplitude que vive em nós, mas como é belo este recorte, belos símbolos.
A arte moderna, representada por Picasso no filme, trará um feminino mais interno, mais primitivo, quase que requerendo a recriação para de novo se encontrar. A cena do trem, mostrando Demoiselles d´Avignon, abre esta possibilidade.
Muito do que há em nós pode ser entendido n'atitude calma e reflexiva de Watson como também na explosão do quadro de Picasso, cheio de olhares femininos, olhares que clamam, que exigem, que chamam, em contraste com a singeleza triste que dizem viver n'O Sorriso de Monalisa.

P.S.: para constar, eu, muito que particularmente, creio mais na versão de que a Gioconda é o autoretrato de Leonardo, como uma homenagem ao feminino que há em todos os homens e que explode em nós que nascemos e nos deixamos ser, mulher, como sorriso de satisfação de Ms. Watson (Julia Roberts) ao se despedir de suas alunas e de nós.

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