Morangos Mofados

>> segunda-feira, 8 de julho de 2013




A maioria dos livros que a gente coleciona nesta vida foi comprado, né? Pois há quem ache livro (gente sortuda), e há quem ganhe livros, o que é, quase sempre, uma forma de elogio. A depender do livro.

A minha edição de Morangos Mofados tem uma estorinha muito curiosa. Primeiro que ela me foi dada, mas não pelo dono, e sim por alguém que  a havia pego emprestada. E não foi colega, outra aluna, mas sim a professora da disciplina que eu cursava, nem me lembro direito, mas acho que era alguma coisa tópicos de teoria da literatura, com minha professora luxo Fernanda C. A professora das roupas, das bolsas e dos acessórios mais legais do curso de letras.

Adendo: Engraçado que uma vez ouvi uma figurinha debochando dessa professora, dizendo que era ridícula e usava vestido de pano de prato. O detalhe curioso é que esta existência que fez tal comentário não tinha a menor noção de como se vestir. Era pior do que ter mau gosto, era não ter gosto algum.

Mas voltando.

Um certo dia a professora veio falar comigo e me perguntou se eu conhecia Ronaldo, um menino que era dos primeiros semestres do curso, muito aplicado, afeito as literaturas, de cabelinho comprido, muito simpático. Confesso que de imediato não lembrei e devo ter feito uma cara assim, de quem não lembra. Infelizmente (ou felizmente, vai saber) sou dessas pessoas que deixa aflorar no rosto o que vai pela cabeça. Mesmo assim a professora me entregou o livro e disse, "se vir Ronaldo entregue, caso contrário fica pra você, parece com você o livro". 

Aos poucos fui lembrando do Ronaldo. Era um querido de sorriso fácil, comversa boa. Não éramos amigos, mas trocávamos sorrisos e dicas de livros. Fazia tempo não o via. E fui procurar outras pessoas que sabiam dele e nada. No livro havia impresso o nome completo e endereço do Ronaldo, mas me avisaram que ele havia se mudado.  Telefone ninguém tinha, muito menos celular. E foi passando, foi passando e aquela edição de Morangos Mofados ficou comigo de vez. 

E, apesar de ser minha, esta edição bem diz que não é tão minha assim. Ao contrário de todos os meus livros, é encapada com papel contact e tem aquele impresso colado no fim da primeira página, com nome e endereço que nunca foram meus. Mas assinei meu nome por cima dia desses.

Vez ou outro me perguntando por Ronaldo, se ainda tem cabelo comprido e aquele rosto feliz, de sorriso fácil. Se voltou ao curso de letras e, se ele pensa naquela sua edição de Morangos Mofados, do Caio Fernando Abreu. Se pensa que está em uma estante da casa da professora Fernanda, cercado por livros de teoria da Literatura. Mal sabe ele que está em minha estante, coladinho entre meus livros de Clarice (uma paixão em comum) e Ana Cristina César.

Bisous.

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