Fortaleza e o Caos

>> quarta-feira, 4 de janeiro de 2012


Pertinho de completar quatro anos longe de Fortaleza, longe de corpo, mas presente em alma, em lembranças e saudades, as notícias do caos que tomou conta da cidade do Sol e da Luz me deixaram aflitas. Porque tenho queridos por lá, amigos de tempos e, Fortaleza sempresempresempre será a cidade das minhas origens, das minhas recordações, da maioria das fotos que contam a minha história. Não falo de raízes porque sou meio que cigana errante, cuja pátria, que nem Pessoa, é a língua que identifico como mãe. Então me deixa.

Uma notícia aqui e ali, até perguntar a quem poderia me contar algo factual, que vivenciou a cousa toda in loco, e tudo me deixou mais aflita ainda. Tiroteios em lugares muito vivos em minha memória, de passeio e diversão com os pequenos. Comércio fechado em plena terça-feira e as ruas vazias, que nem cidade fantasma,  em plena época de férias escolares e alta estação. 

Óbvio que algo desta feita seria absurdo e ultrajante em qualquer momento e época do ano - porque motim de Polícia Molitar e greve de serviços básicos é chantagem, por mais justificada que seja - mas  a hora é delicada, porque fala da imagem de estado cuja economia é baeada em turismo e comércio. Turistas assustados, comércio fechado. 

Mas é claro que as pessoas da cidade, do estado é que sofrem mais de perto, e sofrerão mais, se divisas se perderem. E não ache que foi pouco tempo. Nunca é pouco tempo para galgar prejuízos em uma administração pífia e sucessiva como vem sendo a do Ceará. Os serviços já são uma lástima, não é mesmo? 

Falar em segurança na capital do Ceará? Eu fui assaltada várias vezes, por crianças drogadas, por indivíduos adultos com revolver na minha têmpora. Fui seguida por tarados em plena luz do dia. Morei anos próxima a Avenida dos Expedicionários, cena de um dos assaltos mais violentos do estado, em 1994, que resultou numa vendedora que perdeu um dos braços de um tiro de escopeta. Estava grávida do meu filho mais velho, ouvi tudo de casa, sozinha e apavorada. E pior, fui mal atendida em delegacias, pela guarda-municiapl, gente em sua maioria mal treinada e de má vontade. 

Condições de trabalho? Dei aula nas duas maiores escolas públicas de Fortaleza, e tive que tirar marmanjo com garrafa de pinga da sala de aula. Minha munição era tão somente minha assustadora compleição física de 52 kg distribuídos em 1 m 63 cm. Né?

Porém, apesar de todo esse cenário que parece assustador, Fortaleza é sim uma cidade bucólica, e mais ainda, provinciana. De subúrbios calmos, em que as senhorinhas passam a tarde sentadinhas em suas cadeiras de palha nas calçadas proseando sobre a vida alheia. É divertido e tranquilo comer um acarajé na praia de Iracema, ou um sanduíche na Praça da Gentilândia, um sorvete no 50 sabores do bairro de Fátima. 

Todo esse prospecto provinciano, quase paradisíaco, quando abalado gera uma perturbação da sacro-santa paz cearense, que vira histeria. Sabe a coisa do umbigo que é a maior distância? Pois é.

E me dá tanta, mas tanta aflição, confirmar que Fortaleza continua pirrototinha que só ela.

Inté.

Imagem: foto da estátua de Iracema na praia homônima, feita com minha antiga máquina analógica, digitalizada e com efeito do PhotoFiltre.

Postar um comentário

Salut!

As amigos que sempre vêm por aqui, é muito bom contar com a participação de vocês.

Aos que escrevem pela primeira vez, sejam bem-vindos.

Aos que preferem postar anônimo, saibam que serão liberados se:

usarem o espaço de forma sensata, porque a gente não chega na casa dos outros com libertinagem, esculhambação e nem jogando lixo.

"O Centro por toda a parte, o epicentro por parte alguma." Pascal.

Au revoir.

Related Posts with Thumbnails
Creative Commons License
Reverbera, querida! por Eliza Leopoldo está licenciada sob Licença Creative Commons Atribuição 2.5 Brasil.