Comportamento, dinheiro e observações

>> quinta-feira, 11 de agosto de 2011


Sempre fui muito observadora, mas não daquele tipo que repara no furinho da camiseta, aliás, tipo de gente que me desperta enorme desprezo, mas sim do tipo que observa a cor da roupa, as formas, e se o olhar ou o sorriso está borocoxô.  Não para perguntar se a pessoa está bem, porque nunca acho que tenho cabimento, apesar de que me preocupo, acredite, mas é mais para treinar o olhar. Acho que cada um tem que sentir, sofrer e ser feliz só para si e o resto que interaja se a pessoa permitir. Sabe como? Pois é, pode ser confuso.

Desde que cheguei ao Rio, lugar que para mim era e ainda é um pouco estranho, me coloco na posição de observadora atenta. Acho que esta vontade de observar, perscrutar, ver de perto, é que me faz gostar tanto de fotografia, mas enfim.

Moro na Baixada que é lugar conhecido por ser localidade de gente humilde. A favela que se urbanizou, é o que pensa um monte de gente. Bem, a Baixada consiste em cidades vizinhas ao Rio, que muitos chamam de cidades dormitório ou seja, a vida ativa está no Rio e aqui é só para pernoitar. Ledo engano.

Eu observo a cidade que moro como um desdobramento da Zona Norte, subúrbio do Rio de Janeiro. Um caldeirão cultural, cercado por morros que viram favelas ou que ainda persistem intactos como Mata Atlântica. Acho que os brasis estão todos aqui.

Tem de tudo: tem pobre, paupérrimo, tem classe média endividada, emergente, tem rico, tem rico com mercedes, com porsches e que moram em apartamento de um por andar com mais de 100 m² e que come foie gras e alcachofras frescas toda a semana, que não são compradas no mercadinho Zona Sul, a fina flor dos mercados cariocas, mas sim na delicatessen da esquina.

Isso é que eu chamo de diferença social, outra coisa é bestagem.

Os ricos daqui já descobriram Louis Vuitton, os diversos tons de mechas louras,  mas ainda acham super legal curtir um pagode, um funk num barzinho caríssimo, imitação de pé sujo (boteco povão) que é onde carioca (ou fluminense) de verdade gosta de beber (vide Lapa). Ainda não vi nenhuma fofa de camisa de seda com laço e saia plissado, mas uma hora chega, vai por mim.

Em uma tarde super agradável do ano passado, por aqui mesmo, quando fui a uma reunião na escola do meu erê mais velho, passei numa lanchonete arrumadinha, que vende a tortinha de limão mais delícia da vida e sem cobertura de merengue mal feito, eca. Dai que me entra essa senhora de cabelos curtos, cacheados e brancos, usando suéter e, um óculos de grau vintage da Dior, preso a uma corrente dourada. Passou lá para comprar umas tortinhas, uma para cada neto. Sorria quando pedia as tortas. Supus que lembrava de alguma coisa linda, algum momento doce em família. Fazia questão de dizer que carregou cada um dos netos no colo. Quase que eu peço para ser adotada, mas tudo bem. 

Poucas vezes na vida eu vi pessoa tão elegante, fina e humana, como eu entendo que tem que ser ou que deveria. O óculos antigo da Dior, sua fala, suas roupas passavam a mensagem de que era uma senhora de posses, fina, viajada e culta. E mora na Baixada.

Não vi diferença para as senhorinhas igualmente finas e encantadoras que passeiam pelo coração do Leblon. Não vi diferença para qualquer vovó linda de poucas posses que compram meia duzia de pãozinho francês para alegrar a tarde dos netinhos.

A Daslu vem para o Rio e eu só penso que feliz é quem ama, minha gente, e não quem compra Louis Vuitton ou paga IPTU da Zona Sul carioca.

Inté.

Imagem: Elisa Sednaoui by Wendy Bevan.

Postar um comentário

Salut!

As amigos que sempre vêm por aqui, é muito bom contar com a participação de vocês.

Aos que escrevem pela primeira vez, sejam bem-vindos.

Aos que preferem postar anônimo, saibam que serão liberados se:

usarem o espaço de forma sensata, porque a gente não chega na casa dos outros com libertinagem, esculhambação e nem jogando lixo.

"O Centro por toda a parte, o epicentro por parte alguma." Pascal.

Au revoir.

Related Posts with Thumbnails
Creative Commons License
Reverbera, querida! por Eliza Leopoldo está licenciada sob Licença Creative Commons Atribuição 2.5 Brasil.