Crônicas da casa nova: a cama em pátina

A vida é feita de mudanças, já diz a máxima. E eu não gosto de mudanças  

É da minha natureza preferir a pasmaceira de uma rotina, dias calmos em que se sabe bem o que esperar. Pois é, mas vamos dizer que minha vida não é nada assim e, nos últimos cinco anos tem sido menos ainda.   

Quando estávamos de mudança para o Rio, deixamos muitas coisas para trás, incluindo móveis, miudezas, histórias. Tudo faz falta, tudo deixa aquela saudade doída. Em termos práticos, móveis são uma necessidade, bons móveis então, um luxo em tempos do maldito mdf.

Compramos alguns móveis de caráter urgentíssimo, coisa baratinha, o melhor que conseguimos, que atendesse a nossa necessidade naquele período de transição. Nessa remeça de móveis de improviso, olha lá que tivemos a sorte de esbarrar em umas fofuras de camas de madeira, madeira mesmo, de verdade, nada de compensado, aglomerado, muito menos o nefasto mdf. 

Vieram na madeira quase que bruta, sem pintura, nem verniz. Madeira com cheiro de marcenaria. A cama mais bonitinha até parece um berço, a cama-berço de Kelly in the sky of cupcakes. Passados esses anos, a madeira quer ser lixada, limpa, encerada, quer levar alguns demãos de tinta branca, quer ser lixada mais um pouco, uma demão delicada de verniz protetor e reviver em pátina provençal. Quer ganhar travesseiros de penas de ganso, almofadas felizes e virar uma cama de princesa.

Algumas mudanças são muito que boas.

Inté.