Xoxos da meia noite: estado de espírito - 34

>> quinta-feira, 24 de março de 2011


Um dos sonhos mais antigos, até dia desses, bem dizer a vida inteira, era sumir de Fortaleza, minha cidade natal, como meus 'leitorinhos' querido(a)s sabem.

Foram anos me sentindo deslocada, fora de eixo, fora do lugar. Uma eterna estranha, que é a sensação do estrangeiro.

Como que o destino, uma existência maior que tudo, seja lá o quê, faz alguém nascer assim, desse jeito gauche na vida, que nem Drummond? Era a sensação de todos os dias.

Raiva dos verdes mares bravios alencarinos é certo que nunca tive, mas nunca que amei a vida praiana de Fortaleza. Suas barracas de praia do almoço cearense dos finais de semana. As caranguejadas. O forró das massas (que equivalem ao nome, como mastruz com leite). O calor. O Sol. Ai, o Sol. Aquele céu azul absurdo e os dias claros de doer o coração. Tudo isso era um cenário opressor, em que tive que viver sem amar e com muito esforço por anos.

Quando comecei os estudos de inglês, meninota ainda, era a melhor do curso, o Ibeu, naquela sede próxima ao Colégio Militar. No fenerógrafo perto da biblioteca (que biblioteca!) os anúncios de intercâmbio ou de vaga para curso de verão em Austin faziam meu coração disparar. Eu queria ir pra Austin (óbvio que hoje eu rio muito disso tudo). Consegui nota, consegui bolsa, mas não me deixaram ir, besta de 14 anos de idade. Experimentei um monte de sensações: desespero; frustração; tristeza profunda beirando a melancolia d'alma; ódio, puro e simples ódio.

Adendo: tem bairro aqui com nome de Austin. Sempre que passa, rio só pra mim e brinco que Austin nunca foi tão perto.

Semi-adulta, ainda quase uma adolescente, fui-me embora, não para Passárgada, mas para o Centro-Oeste: Brasília. Brinquei, muito que sério, de ser dona de casa, de ser dona do próprio nariz, de ser empresária. Foi bom. Lembranças da Asa Sul, das áreas verdes, das chuvas loucas, dos raios de verdade (porque não tem disso em Fortaleza) e dos besourinhos multi coloridos. Fora saudade da Oficina Branca de festas.

Dai voltei para Fortaleza.

Engraçado, mas só fui descobrir o meu amor por Fortaleza anos depois, com uma francesa que veio para o Brasil, que escolheu o Ceará para viver e estudar Cordel. Mas já era tarde e hoje estou aqui no Rio de Janeiro, que é lindo de doer, que cavou um amor herdado aqui no meu coração, mas que me traz a exato sentido do que é ser gauche, estranho, estrangeiro.

Hoje entro na casa dos 34 anos de vida. É um estado de espírito.

Inté.

Imagem: de Eliomar de Lima e Flávio Liffeman, lindalindalinda, que encontrei no Tumblr Fortalezas. Morei vizinho ao antigo aeroporto de Fortaleza, a pista ainda é a mesma. É minha última lembrança visual de lá.

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