Xoxos da meia noite: brio é pra quem tem
>> terça-feira, 29 de março de 2011
Não é segredo pra ninguém que uma das paixões da minha vida é literatura, tanto que foi disso mesmo que me ocupei durante quase uma década.
Também não é segredo pra ninguém, ao menos pra quem me conhece, que um dos textos que me é referência de vida é justamente Clarice Lispector.
E também não é segredo nenhum para quem me conhece um pouco mais ainda que, super me incomoda demonstrações públicas de malcaratismo, pouca inteligência, desrespeito, etc coisa e tal.
E é complicado.
O contexto é quase insuportável, porque o simples ato de sair de casa ofende os brios de qualquer criatura humana que os tenha. Crianças sendo humilhadas/agredidas em plena rua e de frente às delegacias, gente idosa sendo cuspida pra fora de transportes coletivos, bandos de cachorros famintos pelas ruas, gente desrespeitando a lei do silêncio discaradamente e vamos parar por ai.
Pra mim, de cabeça mui provinciana, é a barbárie. Não me acostumo e não quero me acostumar. E vejam bem, é o tipo de comportamente que observo em todos os lugares por onde passo.
E eu tento, muito, conter-me, guardar a revolta pra mim, especialmente quando é algo em relação ao que eu me forço a achar "besteira", questões infinitamente mais bobas do que estas coisas terríveis que enumerei acima.
Mas é difícil.
No último final de semana estava na Livraria da Travessa, num shopping de área abastada. Estava morrendo com uma edição do Caderno de Literatura Brasileira do Machado de Assis, que é uma coisa tipo, raríssima de se encontrar assim, ao vivo e a cores e, de quebra, uma edição do Cascos e Carícias da Hilda Hilst, que é outra coisa super difícil. Some a isso tudo o fato de que estava de frente para uma uma linda e completa prateleira de Clarice Lispector.
Eu estava em paz.
Dai que passam dois espécimes por mim e o macho (suposição) do casal pergunta para a fêmea (suposição) se ela não quer ler a louca da Clarice. A fêmea do casal responde exatamente assim (imagine um acento idiolético, super particular e gritado): deus me livre dessa porcaria.
Meu ímpeto foi o de tirar minha rasteira de couro pesado da Maria Bonita Extra e arremessar naqueles espécimes. Óbvio que eu não fiz, porque eu sei que o senso comum me recriminaria e eu poderia até responder a um processo por agressão, apesar de que eu me senti ofendida e agredida.
Claro que não espero que o universo leia e ame Clarice Lispector como eu. Contudo, eu ainda anseio que haja o bom senso, que o indivíduo guarde a sua opinião como uma coisa só sua. Assim como eu não ando por ai saltitante e pirulitante, que nem o Bambi, declarando todo o meu amor por Clarice, porque né, assim como eu também não ando por ai esbravejando que eu odeio paulo coelho. Porque as pessoas não têm nada a ver com isso.
Portanto, eu juro que prefiro um peido, um arroto, do que a porra da opinião que eu não pedi. Obrigada.