Somos todos iguais(?)

>> segunda-feira, 24 de maio de 2010


Este final de semana passei por uma série de arrebatamentos de certa forma sublimes, ipsi litteris, pois me abriram o pensar, me levaram a uma experiência extra corpórea até, pela exposição as coisas e a reflexão sobre.

Para que tenham vaga ideia, sem citar nomes, a primeira experiência se tratava de uma festa de 15 anos evangélica.

Nenhum problema quanto aos 15 anos, tampouco o detalhe do 'evangélico', apesar das minhas ressalvas religiosas a uma série de 'procedimentos', não só evangélicos, mas de 'n' religiões.

Foram seis horas, isso mesmo, seis horas que me forcei (para agradar os erês, todos deserdados. Kelly, esqueça minhas pérolas e camafeus rs) a ficar ouvindo todo o tipo de versão gospel de várias vertentes musicais desde eletrônica até o axé, rock, pagode, funk, reggae (só não rolou metal, uma pena, pois no meu desespero sonoro, Creed me deixaria feliz rs).

A falta 'dumas birita' não foi o problema (não muito), nem a poesia do funk evangélico (♫ a chapa tá quente, vamu ser crente ♪). Problemática foi a esculhambação, em termos de se vestir, em todos os sentidos de não saber e pior, se portar. Ao menos, naquele momento, era isso o que sentia.

O desfile de tecidos sintéticos a gente espera, e as bilhões de saias cintura alta, a última 'tendência' que o povo escolheu para esgotar, já estamos acostumados. Contudo, o excesso de combinações terríveis, que ofendem muito o senso estético desta owner que vos escreve, esteve mui presente e operante e me acometeu uma série de crises de riso nervoso, muito constrangedoras. Tipo, uma senhoura disfarçada de tomatão, os vários penteados que ornavam como se fossem coco de pomba, até uma senhorinha que estava muito faceira de roupinha de casa, de meia e chinelos, que sinceramente, achei musa, porque conforto é tudo.

Vamos relatar a segunda experiência.

Foi uma espécie de transe, quase como cair no canto das sereias, me iludi que não haveriam percalços.

De princípio, visualmente um tanto mais agradável, não era um ambiente hostil. Mas, aos poucos, como em um degradê, começou a se processar o fato que o Vitor chamou a atenção aqui e que na época fiquei discutindo comigo mesma. Cheguei até a esboçar um texto sobre, que não veio à baila, mas que virá a ser pincelado agora, bem rusticamente.

Não estava numa favela ou na festa de poucas posses, mas muita pretensão, que relatei na primeira experiência. Estava num meio abastado, de grifes e de pessoas que lêem Vogue e colecionam Louis Vuitton, um hábito bem carioca, diga-se de passagem. Serviam boa comida, boa bebida, e tinham o senso de fazer um pout-pourri que, via de regra, agrada, porque não é diferente de tudo o que se ouve nas rádios. E então começam as pinceladas...

O fenômeno que Vitor observou, estava perante meus olhos (e ouvidos), em processo. Todo mundo (ou quase) igual. Estavam ali, meninos e meninas, como se fossem cópias uns dos outros.

As meninas: vestido curto, sandália alta, calça skinny, a mesma maquiagem, as mesmas peles bronzeadas, os mesmos cabelos longos lisos em tons de louro e de franja.

Os meninos: calças justas, tênis Adidas (e afins), as famigeradas camisetas com o decote em v, só variando as cores.

E as roupas falavam o mesmo dialeto pobre de sumo semântico.

Brinquei com meus pensamentos, será este um jogo de espelhos, ilusionismo, uma feira de gêmeos rs? Não, não era.

As duas experiências me colocaram em cheque: de um lado, a falta de senso estético consonante com o agradável e o que se entende por beleza, e do outro a mesma expressão de se vestir, cônsono com a ideia local (Rio De Janeiro) do que é ser bacana, bonito, normal, mas sem ao menos se deixar fazer uma variação do mesmo tema, porque é tudo a mesma coisa.

No final das contas abri um espaço mental com muitas lacunas para um monte de questionamentos, que podem chegar no porquê a moda do Rio é vista como é, tratada como é, inclusive pelos próprios cariocas, cultuando um lifestyle que se vende muito equivocadamente, porque esta terra não é só isso. Na análise mais pueril possível. E ainda, o motivo pelo qual, na primeira experiência, em nenhum momento fiquei com sono (lembrem, seis horas de funk evangélico) e na outra, cochilei bonito lá pela segunda hora rs.

Pensem sobre.

Bisous.

Imagem: as gêmeas "gracinha" d'O Iluminado, Kubrick.

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"O Centro por toda a parte, o epicentro por parte alguma." Pascal.

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