O preço que se paga pelas coisas e o valor destas coisas
>> terça-feira, 13 de abril de 2010
Ontem a noitinha, via Twitter, comecei a divagar sobre preços, valores das revistas de moda de hoje em dia, as nacionais e especialmente pelos preços, as importadas.
Ficou muito claro que acho um despautério o montante que se paga por uma Vogue Paris, por exemplo. Contudo, é bom que se saiba, há ainda mais caro, a Vogue Sposa custa quase R$ 200,00, isto mesmo, o preço de um ótimo livro de Arte.
Um valor investido em algo que ficará completamente obsoleto em quatro semanas é, perante os meus princípios, absurdo.
Claro que sei que tem gente que lá quer saber de artes, mané artes, que vão para o raio que as parta. Até me deixa triste (e às vezes pau da vida), porque sou 'discipulinha' de Antonio Candido e acredito nas Artes, na Literatura como bem social e de primeira instância sim, porque contrói o caráter e te alimenta intelectualmente, espiritualmente - para quem acredita em metafísica.
Óbvio, é uma questão pessoal, independente da situação vigente do país, a exploração a que somos submetidos a cada instante. Se gastamos ou não com propriedade nosso bufunfa e se a temos o suficiente, em abundância ou se pertencemos a classe média endividada, neo pobre, lascados, classe C com gosto de classe A (e achamos isto legal), pouco importa, quando o que move o ser humano é o desejo, simples assim.
A pessoa pode ser uma professorinha substituta de universidade pública, (que trata estes espécimes peculiares, os professores substitutos, como experiências para toda a sorte de malfazejo) que ganha um salário ridículo, um pouco mais que o mínimo - para se ter ideia - pode ser solteira, morar com papai e mamãe e querer do profundo do íntimo do âmago do ser, gastar seu suado dinheirinho, que não paga metade do que investiram na pessoa durante o curso (livros, seminários, congressos, palestras, cópias, análise, tarja preta...) com besteirices das mais diversas: produtos de beleza, cabeleireiro, bolsas ícone, roupas grifadas e as maledetti revistas importadas u-ó.
Realmente, não acredito que alguém que tenha que se preocupar com cousas substanciais (tipo comida, condomínio, contas diversas, mensalidade do colégio, plano de saúde) vá gastar todo o seu dinheiro que não seja, em primeira instância, com o que torna a vida decente e cidadã.
Adendo: sabemos que existe gente assim, mas abstraiamos que é mió.
Mas a pessoa solteira, que só tem que se preocupar consigo, deixa ser louca com seu dinheirinho ou dinheirão. Nem por isso será menos esclarecida. Está vivendo o seu momento, mas nem que seja um momento de profunda insanidade, como pagar R$400,00 no Jade da Chanel via Mercado Livre...
Lamento por mim, não ter podido usufruir desta loucurinha adô (mesmo em mulheres adultas, gastar o que tem e o que não tem numa bolsa, pra mim, é coisa de adolescente zé ruela), porque de uma realidade de princesa a de "você tem que se virar, baby", não tive escolhas a não ser trabalhar e estudar pra caramba e aproveitar (gastar com besteiras necessárias) muito pouco pra mim. Ok, hoje até posso, mas quando me deparo com a Vogue Paris, que é, desculpem, apenas uma revista, custando quase R$ 100,00 na Fnac e com a Era Chanel, um super livro sobre uma pessoa inspiradora, custando R$ 89,90 na Estante Virtual, realmente retorno aos meus valores, que ultrapassam, em questões assim, o pormenor do custo-benefício.
1. Continuarei postando imagens de editoriais, inclusive da Vogue Paris, aqui no RQ. Cato tudo no foto decadent, de grátis!
2. Não tenho nada contra gente boa que compra as revistas, as vezes até com esforço, outros tantos sem o menor, porque tem gente que compra pra trabalhar, serve como material pra scrapbook, referências, etcetera. Quem compra porque acha a revista bacana, nada contra também. Eu já comprei algumas edições também ;)
3. Eu gosto muito de revistas, boas revistas, especialmente de Arte e moda, porque compõem o meu métier. Mas gostaria muito mais se me deparasse com preços menos imorais. Transformar €5,00 em R$90,00 não é decente!
O propósito destes escritos e até de tudo o que despejo aqui no marcador U-ó: que fique claro que cada um faz o que lhe aprouver e o resto da galera ou bate palmas ou vomita ou não, ignora. Eu, geralmente, prefiro ignorar. É que estas ideias ficaram friviando no meu juízo.
Bisous.
Imagem: Capa de uma edição da revista Connaissance des Arts.