Duas Polianas

>> sexta-feira, 19 de março de 2010




Meu vestido amarelo e eu entramos num dia, como o meu vestido, amarelo eloquente veranil, comprando velas e bolhas de sabão para alegrar crianças. Ao final, é pegar a condução.

E esta mulher muito magra, carregando um mundo todo em sua herança, num carrinho de compras daqueles de feira, entra no coletivo. Antes desta mulher, tão frágil, uma criança é ajudada a subir.

- Ajudem minha Poliana a subir, por favor.

Igualmente magra, semi-nua, morena pálida, olhos arregalados cor de mel, balbuciando gritado que queria a sua mãe, Poliana é um pequeno milagre de beleza e tem um quê meio que bíblico, olhai os lírios do campo.

Poliana menina não precisa de roupa cara de grandes centros de compras, sapatos graciosos e tudo o que faz faceira o que viria a ser uma criança bem nascida, bem cuidada. Poliana menina só precisava daqueles grandes olhos açucarados e daquela belezice tão pobre de roupas e adornos.

Era linda a Poliana do jeito que nasceu, como um lírio do campo e a mãe que valia o grito balbucio.


Uma outra Poliana, que está em uma morada de gelo e mármore, num quarto principesco,c om nuvens e floresta e que dorme num divã, tem a beleza pálida das mocinhas românticas e os olhos cor de jabuticaba. Nunca lhe faltou roupa, adornos e tudo o que brilha,.Livros, viagens, línguas estranhas. Talvez tenha lhe faltado o carinho da mãe roliça, rica e cheia de si, um tanto quanto demais da conta, para pedir que ajudem sua Poliana a subir. A Poliana de olhos de jabuticaba, recalca complexos freudianos, médio burgueses, disneylandianos, talvez nunca tenha balbuciado gritandoque queria a sua mãe.

Chego a minha casa, com cheiro de brisa do mar e bolo de limão, que minha menina moça filha, que também traz olhos cor de mel, faz porque gostou de aprender a fazer bolo, com sua mãe que não precisou pedir que ajudassem a filha a subir, a filha que nunca precisou balbuciar gritando que queria a mãe, porque a mãe é sempre ali.

Dobro meu vestido amarelo que veranil e eloquentemente serviu de encosto para a Poliana menina de olhos cor de mel, cansada do calor e da fadiga de se ser tão pequena e frágil. O mesmo vestido eloquente e amarelo recebeu abraço da Poliana de olhos de jabuticaba, em outros verões, sem balbucios gritados.

É bom que saibamos a importância de olhar os lírios no campo.


***

Imagem: do filme A Princesinha


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