Sebos

>> segunda-feira, 30 de novembro de 2009

{Alguns dos tesouros que encontrei em sebos: edições importadas, primeiras edições de autores geniais, livros fora de catálogo e obras completas}


Já falamos de brechós, dai me deu vontade de falar sobre sebos, que é outra vítima de preconceito e este ainda mais injusto.

Em sebos pode-se encontrar livros fora de catálogo, verdadeiras raridades. Nos sebos reinam um dos maiores legados que o grande Antonio Candido deixou para o conhecimento, não só da academia, mas de todos: O direito à Literatura.

Olha, como devoradora de livros voraz desde que me entendo por gente, filha dum prof. de literatura, que cresceu cercada por livros, poucas coisas em minha vida me deixavam mais feliz do que ler. Atribuo justamente ao prazer de ler e não propriamente do objeto em si, o livro novinho saído da livraria, que me deixou assim, tão sem amarras ao estado da cousa. Entendam o que quero dizer. O que me conquista num livro é o seu conteúdo, acima de qualquer coisa. Óbvio que um livro novo, com aquele cheirinho bom de papel jovem, desperta uma serie de sinestesias prazerosas, contudo, os livros antigos, com história, com aura, com personalidade, me são muito mais tentadores, e sei que algumas pessoas compartilham desta visão, deste amor na verdade, por uma relação maior de primazia à leitora em si, e não só de livros bonitos e elegantes pra enfeitar as prateleiras e as mesas de centro por ai. Tem gente que compra livro pra isso e eu acho uma pena, um livro que não é lido, é um livro morto. Sim, os livros têm vida, em sua materialidade, em sua literariedade, mas que só ganham vida quando estão sendo lidos.

Então, na verdade esta postagem é mais um pedido para que se deixem conquistar pela leitura e pelo valor real de um livro.

Tenho uma relação de afeto com os objetos queridos e os livros estão no topo desta relação. Agredeço à minha Lua em Touro que me dá este apego terreno às cousas que me são caras. Óbvio que tenho livros que me custaram uma fortuninha, livros novos e de editoras "careiras" e sem dó do consumidor, obras completas de autores maravilhosos, tipo Balzac, que é tipo "os olhos da cara", como se diz, porque é uma escrita rica e vasta e cara, até pra se comprar em sebos, ou seja, de segunda mão.

É uma coisa que quero alertar: não é porque é de sebo que necessariamente vão te passar um preço amigo. Existem sebos que fazem pesquisa histórica de algumas edições, sabem que uma primeira edição do Grande Sertão Veredas, com dedicatória do autor escrita a próprio punho, não é pra ser vendido por três ou quatro dezenas de reais. Estamos falando, em muitos casos, de alguns milhares de reais. Uma edição deste porte é um tesouro, que deveria estar num memorial, num museu, na Academia Brasileira de Letras. Mas nós observamos neste país um investimento em cultura muito equivocado. Na maioria das vezes uma edição dessas cai em mãos particulares, mãos cuidadosas e de boa vontade, mas não é a mesma coisa do que fazer parte do bem público, mas deixa...

Contudo, existem os outros tipos de sebos que são um convite não só a alergia, mas também a encontrar absurdos, como eu, que encontrei uma terceira edição do Romance dum homem rico, do Camilo Castelo Branco, de 1889, custando R$1,00. Vale ressaltar que este mesmo livro não seria vendido em Portugal pelo mesmo valor, mas de jeito nenhum, com marca de traças ou não. Até porque é uma publicação portuguesa inclusive duma editora que não existe mais. Fora que sebos na Europa são uma coisa diferente do que encontramos por aqui.

Quem mora em Fortaleza e me leia talvez conheça a Livraria Arte e Ciência, vizinha ao Campus de Humanidades I da Universidade Federal. É uma delícia de livraria e sebo. É mais ou menos naquele molde que encontramos os sebos da Europa. Tá, também tem bagaceira na gringa, tem até livrinho pocket sendo vendido em cesta de vime na calçada (rs, acho simpática a ideia), o que é um tratamento meio que lúdico demais aos livros, tadinhos, mas é bem melhor do que ver algumas edições escolares servindo de calço de mesa, como já vi algum "sebo" (ênfase nas aspas) aqui no Rio fazer, um crime!
Adendo: nem tudo que se anuncia sebo vale a pena. Mas ou menos como a história dos bazares ruins que querem se passar por brechó.

Então, procurem os sebos de sua cidade e preparem-se para se surpreender. Se ainda assim, você não está muito confiante, que tal uma visita sem sair de casa? Estante Virtual. Lá, dentre outras coisas, encontrei o Caderno de Literatura Brasileira da Clarice, que está esgotado, menos da metade do preço original e novinho que dá gosto.

Bisous.

Imagem: Acervo pessoal.

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