Alexander McQueen - Plato's Atlantis - e o outro lugar
>> quarta-feira, 7 de outubro de 2009
Quando se pensa sobre a criação de McQueen, tanto a Plato's Atlantis, como a carreira toda, que vem numa crescente linha criativa, talvez difícil e perversa para ele mesmo (falarei sobre na próxima postagem), tão poderosa, cáustica, transformadora que abre lugar (vários) para que se pergunte, como ainda há quem duvide deste outro lugar da moda como arte?
Óbvio, que nem todos os criadores do "mundo da moda" chegam lá, nessa expressão do interior e para além, a expressão das coisas que são externas e internas ao mesmo tempo e por isso são compartilhadas por todos, muito além de uma experiência íntima.
Por exemplo, a dor é uma sensação que pode ser física ou espiritual, ambos os processos desencadeiam o mal estar orgânico, que de uma forma geral todos sentem, daí sujeito a empatia e até, em casos de almas sensíveis, o compartilhamento desta dor. Ou ainda mais profundo, fazer balançar e entender algo que não nos é comum, como a loucura, como é o caso do quadro da automutilação de Van Gogh.
Pode-se afirmar que McQueen precisa de outros recursos para fazer esta roupa transcender o seu feitio de apenas roupa cara, da semana de moda parisiense, elitista e excludente.
Ele precisou do vídeo da Raquel Zimmermann nua, em meio a areia, se retorcendo plasticamente com serpentes lhe trançando o corpo. Ele precisou de todos os efeitos de luzes e da tela no fundo da passarela refletindo como num olho d'água sua coleção. Precisou dos robôs/câmeras gigantes indo e voltando, que complementaram o efeito sinistro da própria coleção, em que mulheres submergem como monstros aquáticos.
São todos recursos externos à feitura das peças da coleção.
Parecido acontece, por exemplo, quando se quer comparar poesia e música. A academia proíbe e prova "por a mais b" que letra de canção nenhuma pode vir a ser comparada com poesia, pois poesia é poesia e música é música. A poesia não precisa de música, instrumentos, acordes para ser poesia. Poesia possui melodia interna, própria, criada nos seus versos e combinações (as vezes descombinadas), sem ajudar externas. A Música para ser música precisa dos instrumentos, cordas, sopro, percussão, que lhe dão vida. Cada um com seus recursos. Por isso uma não pode ser comparada a outra. Por mais poética que lhe soe One do U2 por exemplo, ela não é poesia, é apenas uma linda letra de uma linda canção.
Mas a gente pensa e sente assim, do jeito que "Academias de Letras" querem?...
E a gente segue teimando: moda e arte; entrelinhas; à margem; o abismo.
Bisous.
Imagens: Style.com e Coutortre.