Tim Burton

>> sexta-feira, 14 de agosto de 2009


Costumo marcar os períodos da vida, remetendo a algo que representou alguma forte presença. Na adolescência foi o cinema.

Houve um período que chamo de "período de iniciação", por volta dos 13/14 anos, que foi uma das épocas mais queridas.

Era então editora do jornalzinho da escola, que inclusive foi criado pelo meu grupo de amigos e que surgiu a partir do nosso "clubinho do terror" (nos reuníamos após as aulas para trocarmos figurinhas de filmes de terror, Jason - o babaca, Freddy Krueger- o Tio Freddy, ídolo mor, o Michael Myers- o tímido), entre nós meninas até os vilões da Disney faziam parte da nossa pauta. Era muito bacana!




Nessa época já nos deixavam, óbvio, devidamente escoltados por irmãos mais velhos ou pela tia de alguém, passear pela então novidade pós-reforma do Shopping Iguatemi, que era ridiculamente pequeno, mas pra nós era um mundo a se desbravar, inclusive porque era looonge pra caramba.




E foi nesta época que o cinema entrou em nossas vidas. A gente que vivia limitado às estreias de filme de terror no SBT ou então à sessão da tarde, Curtindo a vida adoidado, Goonies, Garota de Rosa Shocking (que tipo, é amor até hoje) nos tornamos habitué(e)s, figurinhas carimbadas, com carteirinha e tudo, do charmoso Cine São Luís à Praça do Ferreira, um dos prédios mais lindos da Fortaleza.




Pena que o cinema como o conheci não existia mais já quando sai de Fortaleza. Houve época até que a Universal quis comprá-lo para transformar num "templo", óbvio. Não aconteceu, o cinema foi preservado, mas não mais como era.

Foi uma época ótima de grandes estreias, quando finalmente estávamos liberados para pegar um cineminha com os amigos, pipoquinha, coca-cola. Alguns anos depois se inaugurou a primeira McDonald's em Fortaleza, bem próximo ao São Luís, claro né, e após as sessões íamos em bandos, com nossas camisetas de banda, All Stars, melissinhas, contabilizando a grana pífia de adolescente pro xburger com sundae, pra ficar igual aos filmes da sessão da tarde.

É uma lembrança tão boa, de uma época tão ingênua, de posteres pelas paredes, de fitas k7 e de uma luta homérica pra conseguir comprar um esmalte azul.

Era magia pura. Aliás fui educada pra filtrar a magia das coisas, graças aos contos de fadas que preencheram minha infância e ao Clube da Disney também hehe.

E foi nessa época que descobri Tim Burton, numa matéria da Veja, à época do lançamento de Edward Mãos de Tesoura, que assisti na estreia no Cine São Luís e que me conquistou ali mesmo, com aquele sujeito curioso que dava vida ao Edward, que pra mim, até então, era um tipinho que fazia parte dos Anjos da Lei.




Descobri então que outro filme querido da sessão da tarde era do Tim Burton também, Quando os fantasmas se divertem, com o impagável Beetlejuice, a cobra listrada e com a estranha Winona Rider.

Bem que eu conhecia aquele rostinho da Kim, do Edwards mãos de tesoura, só que os cabelos, que nem na propaganda antiga de shampoo (lembram?), "quanta diferença" e que quase uma década depois fez burburinho no Girl, Interrupted, ela e a beiçuda da Jolie, mas aí é outra cousa.


De lá pra cá o Burton e seu mundo, que cria um grotesco que encanta, faz parte da minha vida. Foi a primeira vez que parei para prestar atenção no diretor de um filme, na sua criação, o que alimenta a mente de quem está atrás das câmeras e dos textos que se tornam película. Foi através dos filmes do Burton que aprendi a buscar referências, conhecimento de mundo e a parar e observar que até numa árvore morta, encontra-se poesia e abrigo, como os bichinhos nos desenhos das princesas da Disney.




Só pra saber, o primeira experiência profissional do Burton foi quando ganhou uma bolsa da Disney, que levou o menino esquisito, fã de Vincent Price, tempos depois, a trabalhar na própria Disney, como aprendiz de animador.




Vejo o mundo que Burton transmite através de suas obras, muito em metáfora no Big Fish, que o fantástico vêm quando a gente enxerga o fantástico, quando a gente se permite enxergar, como acontece na infância, em que tudo é possível, até fazer de um clubinho de terror a coisa mais legal e feliz da vida.

Neste trajeto, muita coisa pode parecer bizarra, assustadora até, mas se repararmos direito, é tudo tão inofensivo, como no Estranho Mundo de Jack, em que uma porta separa o Natal do Halloween. Uma separação tênue. Só quem consegue captar o fio que liga o medo e o encantamento é que vai entender; tem que ler muito Perrault e Anderson, com ogros engolindo crianças e tudo o mais.




Quanto a sua versão da Alice, de pronto, quando soube fiquei mega entusiasmada. Mas aí vieram as primeiras imagens, o trailler. E veio aquela impressão de que há muita ênfase no Chapeleiro Maluco, que de princípio me parece uma falha, apesar de que as cenas, a maquiagem, o figurino e o Johnny estão incríveis, isso é inegável.

Contudo, por todo o compêndio criativo do Burton, ele super tem todos os elementos para dar o tom certo e até voos mais altos a sua versão para a Alice, lembrando sempre que fidelidade ao texto, em termos de adaptação para o cinema, é uma coisa complicadíssima. Adaptar uma linguagem para outra é sempre difícil, os recursos são outros. Então por isso tudo, dou um desconto enorme ao Tim Burton e estou deixando para conferir o resultado final nos cinemas em março, que super estou considerando presente de aniversário.

Vale lembrar ainda que a adaptação do Dracula pelo Coppola foi tudo, menos fiel, tipo, alterou o texto quase que por completo, romantizou, com cores fortes e o melhorou. Isso é só uma opinião de quem curte muito um toque de pó de pirlimpimpim e salagadoola ;)

E só resta trick or treat!

Bisou.

Ilustrações: Tim Burton.

Postar um comentário

Salut!

As amigos que sempre vêm por aqui, é muito bom contar com a participação de vocês.

Aos que escrevem pela primeira vez, sejam bem-vindos.

Aos que preferem postar anônimo, saibam que serão liberados se:

usarem o espaço de forma sensata, porque a gente não chega na casa dos outros com libertinagem, esculhambação e nem jogando lixo.

"O Centro por toda a parte, o epicentro por parte alguma." Pascal.

Au revoir.

Related Posts with Thumbnails
Creative Commons License
Reverbera, querida! por Eliza Leopoldo está licenciada sob Licença Creative Commons Atribuição 2.5 Brasil.