Já foi melhor

>> terça-feira, 26 de fevereiro de 2013


Obs.: alguns spoilers, cuidado.

Sofro de coração muito idoso. Já nasci caducando nessa vida, acho que uma definição bem mais acre que ser gauche (sinistro, torto, esquerdo, canhoto), como dizia Drummond. Óbvio que tenho minhas modernices, afinal estou aqui escrevendo para vossas mercês, mas, ainda assim, eu me sinto uma pessoa muito velha. Ultrapassada, sabe como? Pois é.

Fora o temperamento, nossa era também não me ajuda. É um processo de abaixo da média, é o que tem para hoje, um conformismo com a sem-gracice que qualquer sinal de diferença é um alívio para meia dúzia e um insulto à existência da maioria. 

E essa sensação, a da velhice existencial, é corriqueira, mas dessa vez veio após a jornadinha de filmes indicados ao Oscar e, a cerimônia do Oscar em si, que teve o tal do Argo como grande vitorioso e uma das maiores audiências de todos os tempos. Muito interessante, porque quase morri de tédio ao tentar assistir. Confesso que desisti e fui me deitar, cansada da lida. 

Acrescente a isso tudo ter (re)assistido Hugo Cabret do Scorsese no dia seguinte, porque para mim, Hugo Cabret é que é filme bonito e não Amour ~ muito menos Argo ~. Sim, Amour é um filme incrível, que te marca para o resto da vida, mas bonito? Assistir de forma quase que real duas vidas se findarem na velhice, na solidão e na doença, esperando a morte que chega da maneira que chega. Ah não, eu não acho isso bonito. Acho contundente, quase real (porque tem a parte do delírio, daí a gente é resgatado da impressão da realidade e lembra que é um filme. Haneke gênio), mas bonito, para mim, nunca. 

Para mim cinema ainda é uma fábrica de sonhos, aquela sensação de Méliès, Chaplin, do encantamento. É isso que ainda me faz ir ao cinema e manter uma considerável coleção de títulos. E apesar de que ainda existem pessoas que resgatam essa beleza, como Scorsese (que também tem filmes incríveis, que não são bonitos, como Taxi Driver), eu digo que, já foi melhor.

Bisous.


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